quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Vivendo!

Ano 2014! Mês dezembro!
Nessa época a gente começa a refletir sobre o que vivemos, o que deixamos de viver e o que esperamos para o próximo ano.
Não posso reclamar de falta de realizações. Esse ano foi intenso!
Tão intenso que chego ao final dele sentindo-me vazia...
Eu sei, é estranho! Mas é humano!
Vivi esse ano envolta a um turbilhão de emoções. Que começaram antes mesmo deste 2014. Na verdade tudo começou em 2013, com a peça infantil "Os 3 R's". Depositaram em mim uma confiança que pesou, e ao mesmo tempo muito me alegrou.  Entre escrever, dirigir e ver tudo pronto, quantas emoções! Estar junto desse pessoal é sempre um mistura de sentimentos. Como em qualquer grupo de pessoas onde há sempre seus conflitos, há que se ter também muito, muito amor!   

Depois em janeiro, preparativos para a Paixão de Cristo 2014, um trabalho de quatorze anos na Igreja Senhor do Bonfim. Texto, ensaios, músicas, palco, amigos, irmãos, até chegarmos na Sexta Feira Santa, recebendo um público fiel que nos assiste. Esse ano o tema foi Lázaro, e como esse personagem falou comigo nesses meses. O quanto a vida tem me chamado à vida, de uma maneira toda nova e transformadora! Respondi desenvolvendo um lado que eu não conhecia: escrevendo! Escrever se tornou a forma da minha expressão! 
Então, depois de dois anos dando vida e quase matando todos os personagens, em setembro, lancei meu livro "Entre Anjos e Flores" , um filho que atirei como uma flecha ao meu pequeno mundo repleto de família, amigos, que sempre torceram por mim.


 Nunca, em toda a minha vida, vivi experiências tão sangue,  tão ossos!
 Estava acostumada a ser uma expectadora, nesse ano fui a protagonista em várias situações, que sem dúvida alguma me fizeram crescer, com certeza eu não sou mais a mesma.
Continuo, como sempre, observando a vida, isso sou eu, nunca vou mudar, eu acho!
Mas pude me ver através de outros olhos.
Olhos de admiração e de estranhamento. Olhos de reconhecimento por algo que eu nunca imaginei que conseguiria. Olhos amigos que me incentivaram, me apoiaram. Olhos que duvidaram, e mesmo assim não me deixaram. Olhos que me conduziram!
Tenho muito a agradecer. A Deus - o meu Jardineiro - a minha família, aos meus amigos. 
Mas agora, confesso, estou cansada! Dei um tempo na escrita, esse é o primeiro texto que me coloco a escrever depois de um longo inverno. Como tudo que não se pratica, como está sendo difícil ordenar pensamentos e palavras. Não estou nada feliz com isso.  Mas resolvi ser generosa comigo mesma. Dei à luz e agora mereço descanso!
Acho que toda essa mudança em minha vida, mexeu comigo de um jeito que até eu mesma me olho com desconfiança, me olho com estranheza, me perguntando: quem é você?
Acho que preciso mais sessões de terapia, mais leituras que me ajudem a refletir quem sou eu, porque essa Lilian que se apresentou a mim nos últimos tempos, me deu imensa alegria mas também bagunçou o meu mundo cômodo e tão tranquilo. 
Enquanto ainda não sei o que fazer, descanso entre corujas e borboletas, entre anjos e flores! Enquanto não me descubro, sigo fazendo o que faço de melhor: me divido entre viver e admirar a beleza do caminho!
  


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O Deus do silêncio!


Estou mergulhada em meu silêncio!
Se sou semelhança de Deus, então o meu Deus é o do silêncio.
É neste banco solitário que nos encontramos, que nos entendemos.
No princípio eu pensava ser esta uma busca cruel, sem nunca ter uma resposta favorável as minhas tantas perguntas. Na verdade muitas vezes eu me perguntava se Ele me ama, se Ele me escuta, ficava aqui me sentindo abandonada por Ele, em meu banco do silêncio, com minha cabeça barulhenta formulando as mais fantásticas teorias do porquê tinha que ser assim.
Só que percebi que eu sou assim.
Eu sou o silêncio, eu sou observação, eu sou reflexão. Se eu sou assim, porque desejo um Deus ao contrário de mim?
Estou aprendendo a reconhecer o Seu amor e o Seu respeito por mim em Seu silêncio.
Aprendendo que o meu caminhar ao lado Dele deve ser um caminhar leve, nada de bagagens pesadas, nada de coisas acumuladas, que muitas vezes nem são minhas, nem Dele, apenas mãos vazias.
Nada de expectativas que frustram ou cobranças que envenenam o que é puro.
Assim como me deu livre arbítrio, também eu O deixo livre, para me amar como quiser, mesmo sabendo que o Seu amor é imenso e que para Ele muitos outros existem. Com outros Ele deve ser expansivo, Ele deve ser mais alegre, sociável, quem sabe até "falador", totalmente ao contrário de mim. 
Ainda assim sei que me ama, porque para Ele eu sou única em meu silêncio.
Talvez eu esteja caminhando de encontro a uma sabedoria mais profunda, aquela que não faz mais perguntas, porque sabe que não há respostas. Talvez eu esteja mergulhando com mais confiança, saltando com mais fé.  
Então como não amá-lo assim?   
Amo esse Deus Jardineiro, que não é de muito falar, mas que é de muito sentir. Amo esse Deus Garotinho que gosta do sabor das coisas, que se lambuza em mexericas, que reflete, que observa. Esse Deus maravilhoso que por amor à mim, colocou um banco nesse jardim de contemplação onde nos sentamos juntos à sombra de ipês amarelos e ficamos nos falando em silêncio!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A Mulher do primeiro dia da criação!

Depois de uma semana um tanto quanto difícil, chegou enfim a sexta feira!
Há uma semana atrás, neste momento eu estava correndo com o aniversário do meu filho Miguel, e os últimos preparativos para o lançamento do meu livro "Entre Anjos e Flores". Foi um final de semana especial, vivido com toda intensidade, cheio de emoções, rodeada de pessoas queridas, parentes e amigos que sempre estiveram comigo.
Deixou em mim a sensação de sonho realizado, mas e agora, o que fazer?
Não quero parecer ingrata com tudo que vivi, podem dizer que nunca me satisfaço com nada, eu mesma chego a ter essa impressão.
Acho que experimentei o que dizia Clarice, quando terminava de escrever um livro. Fiquei vazia!
Ele não me pertence mais. Saiu do mundo da escrita, criou asas e se foi.
Por isso, acho que os dias foram tão lentos, solitários, tristes.
O que fazer agora?
Uma oração.
Estive entre "anjos e flores", e porque acredito nesse jardim eu peço:
Jardineiro, me proteja do desencanto que turva o olhar, e nega a vida.
Que eu sempre possa me lembrar das coisas que me inspiram.
Hoje, no jardim da minha mãe, percebi uma criaturinha efêmera, dançava entre as flores. E o meu coração não encontrou nela a beleza que eu via. Me proteja desse tipo de olhar que nada vê.
Me proteja de mim mesma, e dessa secura que eu bem conheço que posso ser.
Que eu mantenha a delicadeza em caminhar pelo seu mundo e perceber a beleza nos cantos mais improváveis, como quando ia até a faculdade e no caminho desabrochava o amarelo em meio ao córrego.
Que a vida e as pessoas possam sempre me surpreender com coisas boas, e se não forem, não me deixe esquecer que tudo tem o seu momento.
Que a sensibilidade que me deu como um dom, seja para mim o bálsamo em momentos como esse que vivi, porque eu sei o quanto posso ser cruel comigo mesma, porque conheço as minhas profundezas.
Que eu me lembre sempre que em momentos de deserto, há um oásis escondido, e por esse motivo o deserto pode ser belo. Que as dificuldades da vida me façam enxergar coisas que ainda não estão lá, mas que irão chegar.
Que eu possa confiar nas coisas que escrevo, porque sei que vem da alma e ela - a minha alma - é o que me liga a Você.
Fomos separados por séculos e séculos, mas que sempre venha a mim a certeza da essência de que fui forjada. 
Que através dessa essência eu sempre me refaça, me reinvente, renasça. 
Mesmo de cinzas, que haja sempre uma luz de chama.
E que a cada manhã, eu possa abrir meus olhos e enxergar o mundo como aquela mulher do primeiro dia da criação.
Amém! 

  


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Meu livro "Entre Anjos e Flores"


























Amigos,
realizei o sonho de escrever um pequeno romance. Demorou um bom tempo, mas agora está aqui.
Uma pequena história, onde tentei colocar um pedacinho de mim.
Quem tiver interesse, está disponível para compra no site

http://anemaeditorial.com.br/index.php/administrar-sitio-2/86


Para vocês que a tanto tempo acompanham meus textos, agora leiam também esse romance!

Abraço a todos!!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Ipês

Quem já viu um ipê em flor?
Todos, com certeza!
Roxo ou rosa, branco e amarelo!
No período da floração, perdem todas as folhas, e dão lugar as flores. Uma peculiaridade desta linda árvore.
A sua madeira é muito valorizada por sua resistência, dureza e flexibilidade, considerada assim uma madeira-de-lei.
Uma árvore que tem em sua flor o símbolo nacional.
Porém, essas coisas só conheço agora. Porque para mim existiam as árvores de flores amarelas antes de Rubem Alves, e agora existem os ipês depois de Rubem Alves.

Primeiro conheci suas poesias, seus pensamentos, depois conheci o poeta - mesmo não o tendo visto nunca - e por último as belezas que ele amava.

E assim as amei também.
Porque se ama tanto um autor, um pintor, um artista, um poeta?
Tenho aprendido que é porque eles falam o que nosso coração quer ouvir, não o que não sabíamos, mas o que tínhamos esquecido. Eles nos falam da nossa saudade. Nos falam da nossa beleza.
Uma beleza universal. Uma beleza que está gravada em nós como um estigma cuja cicatriz simboliza a lembrança.

Com Rubem aprendi que a leitura é um comungar de pensamentos, e o meu comungou muito com o dele. Ou o dele com o meu. Porque é a fusão de tudo que nós somos, não se sabe onde começa e onde termina. Porque lendo-o leio a mim mesma.

Lembro-me de uma frase de Clarice: "Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Os jardineiros passeiam pelos mesmos jardins. E se reconhecem.
Então todos os dias eu ando com Clarice, Cecília, Guimarães, Cora,Érico, Ana, Adélia, Fernando...
E comungo de seus pensamentos, de suas belezas, e me lembro de quem eu sou.
Hoje, todos os ipês me são Rubem Alves.
Mas me dei um em especial, pequenino ainda, mas que crescerá, ficará forte, perderá todas as suas folhas e florescerá, me recordando que nada acaba, tudo se transforma.
Antes eram apenas flores amarelas, hoje são ipês que me recordam a beleza de que todos nós somos feitos.

 "Vês lá longe os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo é inútil para mim. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então, será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo que é dourado fará lembra-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo."
Antoine de Saint-Exupery




segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Atrás das cortinas!

Um palco.
Quente, em suas madeiras. Vivo, sangue e veias.
Nele, desfilam vidas em pequenas histórias inventadas, sob luzes e escuridão.
Personagens.
Construção: trabalho e suor, alegrias e choros.
E o espetáculo se enche de calor, e é perfeito, real, todos acreditam nele.
"Que original!"
"Que verdadeiro!"
"Único!"
É mágico.
Mas na cartola, um truque.
Na magia, um ilusão.
No teatro, a máscara.
O embuste, as cortinas.
Pesadas, escuras.
Faz parte do show que sejam assim.
Escorre a tinta vermelha na tela que se protege sob a pele do ator.
Não existe maquiagem, figurino, interpretação.
Ali é a alma, nua e crua.
Às vezes nem tão bela, as vezes difícil de engolir.
Ali é onde a essência se manifesta. Onde o humano toca o céu e o inferno.
O espelho se reflete nitidamente, não há névoas, não há fuga, porque não há para onde fugir.
Só a dor da realidade, daquilo que é.
A criatura vira bicho ou num lampejo de grito, renuncia suas correntes e se cria.
Esquece o barro de que era feita, se reinventa, se modela.
Se reeduca, se ama.
Sofre, perdoa, esquece.
Vence! Perde!
O espetáculo se dá na coxia, nos bastidores de nós, onde não há luzes, nem olhares, nem aplausos.
Estamos sós, lutamos sós, vencemos ou perdemos sós, sem reconhecimento ou crítica de ninguém, somos atores, personagens, público.
Vida única atrás das cortinas!
 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Palavras




Já noite.
Tenho me sentido deprimida, triste, sozinha.
Mas tenho uma teoria que pode explicar meus sentimentos.
As palavras, minhas cúmplices, têem me deixado de lado, me colocando num exílio da escrita.
Estou em um deserto, sem ninguém para me oferecer uma gota de água.
Nada me vem, nada... vazio!
Solidão!
Me dou ao luxo de deixar que uma lágrima escorra, quem sabe ela seja a água que ando precisando.
Para lavar a alma.
Para me trazer um pouco de paz.  
Mas ela só molha o meu rosto, não me oferece nada de novo, não me acrescenta.
Talvez tenha sido apenas um sonho bom.
Outro dia, li um pensamento interessante, que me colocou no inferno.
Um escritor só é escritor enquanto escreve, o escritor só existe, enquanto as palavras saem de sua mente e passam para o papel, depois disso ele está morto. Dá lugar ao autor.
Eu não quero ser um autor de uma única obra. Eu quero continuar abraçando e amando as palavras que tanto me oferecem libertação.
Eu quero continuar a beijá-las, quero que continuem a me beijar. Quero se que debrucem sobre mim, e me falem ao ouvido, quero que me amem, que me desejem, que façam amor comigo.
Preciso. Necessito.
Porque esse abandono?
Não entendo.
Será que nada mais posso oferecer?
Será que acabou o mistério? A paixão?
A vontade, o desejo?
O que faço eu agora? Estou sem norte.
Perdida!
Quando vocês vão voltar? Quando?
Preciso do nosso caso. Não consigo mais voar.
Não vêem? Estou sangrando!
Não posso mais viver sem a graça de possuí-las. 
Chega desse exílio! Esse parto que não se finda!
Quando voltarão a brilhar em minha vida, trazendo novamente a luz para os meus dias?
Mas voltem, se realmente me amarem.
Não me ofereçam apenas as migalhas do que já fomos um dia.
Mas, se podem viver sem mim, vivam então. Em mentes mais brilhantes que a minha. Em almas mais sensíveis que a minha.
Não deixarei de amá-las. Apenas aceitarei amá-las em outros pensamentos que não sejam os meus.








 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Entre vida e morte


Foto - Rafael Franceschini

Há um tempo atrás li um livro de Lya Luft "As Parceiras" - muito bom, eu o recomendo.
Quando se lê algo novo, aquilo começa a fazer parte de nós, somos um pouco de tudo que vemos, lemos, ouvimos, participamos. Mesmo que inconscientes disso.
Um escritor precisa ler - não que eu seja, mas confesso, sou uma aspirante - por isso como ouvi uma vez, um professor em uma faculdade dizendo para a turma que, para se criar, se faz necessário pesquisa e repertório, também um escritor precisa.
Então assim, nasceu esse texto, ele deve ter sido fecundado em mim pela leitura do livro de Lya. Nem chega a ser um texto, é apenas um "ensaio" - ando gostando dessa palavra - um ensaio do que seria a morte e a vida...  

"Sei que um dia morrerei"
Este pensamento veio à mim, e eu não quis como de tantas outras vezes descartá-lo de meu pensamento, como se com isso pudesse aplacar o destino certeiro.
Não, hoje quero mastigar essa verdade.
Um dia não estarei mais aqui. Minha viagem terminará e eu voltarei para o meu lugar.
Estou vendo, a minha visão se aclara quando deixo as palavras me cercarem.
Pois se a vida é uma viagem, eu não pertenço a esse lugar.
Verdade que às vezes sinto saudades, de não sei o quê, mas sinto.
Venham queridas, venham me ajudar a perceber de onde sou.
Perceber que esse corpo um dia perecerá, e desta morte se elevará algo mais puro, mais íntegro, mais absoluto e verdadeiro.
Sinto, às vezes sinto, uma vontade de romper essa barreira, desejo então o meu medo?
Mas eu morro todos os dias. Todos os instantes. E vivo a cada dia, em todos os instantes.
Morrer é uma grande ilusão. Uma mentira cultuada. Ela não existe.
Assim como a vida.
Elas brincam, são parceiras. 
Vida e morte, e nós em meio à elas. 
Mas eu não pertenço a nenhuma delas. 
Sou um ser livre, engaiolado pela vida, e libertado pela morte, mas ainda assim, independente delas. 
Eu existo, e nem a vida e nem a morte tem qualquer poder sobre a minha existência. 
Já existia antes, continuarei a existir depois, e sinto saudades dessa existência perfeita a que eu - posso dizer agora - pertencia.
Não me perguntem como, e nem porque, mas penso que Fernando Pessoa coloca um pouco do que agora me revelaram as palavras:

"Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluído de intenções, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar - agora desconhecendo-se
Sempre separando-se de mim, indefinidamente."




quarta-feira, 21 de maio de 2014

Incompleto


Nota da autora - Entre o nascimento e a morte existe um vácuo, dentro dele um nada chamado vida.

O que é a vida senão um vazio a ser preenchido?
Para alguns, abrir os olhos, olhar as horas, olhar papéis.
Para outros ir a feira, atravessar a rua, tomar café, escurecer o dia.
Esse cotidiano de massa que nos devora.  
Para outros, exclamação, ponto final, interrogação...
Os raros percebem logo, que a eternidade é a uma oportunidade que bate à nossa porta, quando no chuveiro estamos. 
Os sábios percebem logo, que feliz é aquele que simplesmente está.
Gosto de frases abertas, que não se completam, que deixam a imaginação falar. Gosto de frases que são como nuvens, que se formam em céus abertos e claros, que dão a oportunidade de viajar.
Gosto de palavras que chegam como as folhas que caem, na estação do outono, uma a uma, formando um tapete onde se pisa.
Gosto de palavras como essas que agora escrevo, que não fazem o menor sentido, como sentido algum há nesse texto, ele não foi feito nem escrito, foi apenas uma mísera vontade de preenchimento, um lampejo de vida, a minha desesperada e também doce tentativa, de amarrar o meu tempo em um poste.  
A minha ida, amarrada e dolorida.
Os meus anseios, as minhas verdades escondidas.
A minha incompletude, a minha impermanência, as minhas linhas que se encontram e desencontram... 
E a borboleta voa bem a nossa frente, quase tromba com nosso nariz.
    

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Transcendência!


Nota da autora - Conheço todas essas carinhas, eles se intitulam "Os mano". Quando vi essa foto, achei tão linda, não só pela imagem, mas por todo o sentido que ela revela.

Sei que já escrevi sobre a amizade muitas vezes, e penso que esse tema é realmente livre para criarmos todas as teorias, ideias que tentem fazer com que entendamos o sentido de termos amigos.
Como seres humanos que somos, vivendo em sociedade, nos é praticamente impossível o isolamento. Precisamos uns dos outros, desde o primeiro momento. Lá no berço ainda. No interior da família em que nascemos.
Conforme o tempo passa, outros grupos vão sendo apresentados a nós. O da escola, do trabalho... da igreja.
Vamos conhecendo e nos adaptando a cada um deles, formando canais de comunicação entre quem está ao nosso redor, porque não realizamos nada sozinhos, precisamos uns dos outros, porque se não for assim, o trabalho final pode até se realizar, mas não será fácil nem prático. 
Tudo se constrói tendo como base um objetivo, e a gente se une para alcançar esse fim. 
Mas aí acontece que pensando juntos, trabalhando juntos, brincando juntos a gente começa a perceber afinidades, e então a vontade de estar perto sobrepõe o horário da escola, do trabalho...da igreja.
Percebemos que além do compromisso assumido, queremos estar perto do outro, ficamos felizes quando o outro chega, não existe mais a formalidade que os lugares em que nos conhecemos nos provoca, e queremos estar só por estar. Isto se torna então um prazer.
Nasce então a amizade.
A amizade é algo que transcende, vai além do que estava pré estabelecido, que independe da distância ou do tempo que possamos ficar separados, porque o que uniu foi a construção da confiança, do que vemos de nós no outro, do quanto reconhecemos a importância do outro em nossa vida. 
Sim, é sentimento, é algo que está no toque, no olhar, na alma.
Quando vi essa foto, acho que foi isso que vi, essa transcendência! Que ultrapassa o vazio da distância e os une para a eternidade!



 




segunda-feira, 12 de maio de 2014

Primeiro Amor!



E depois de tê-la esperado por todo o meu dia, agora resolveu aparecer - Bem vinda Dª Inspiração, me dê honra de sua presença!

Veio para me falar de amor. Um amor que nunca aconteceu! Mas nem por isso deixou de ser intenso.
 - O que conta deste amor Inspiração?
Se bem me lembro, chegou sem esperar. Daqueles que num assombro te mostram que você deixou de ser menina, daqueles que te mostram o quanto ficou desinteressante as suas bonecas, as músicas de ciranda. 
Como um dia de sol que te desperta.
Que desperta os seus sentidos, os seis... porquê o sexto sentido aflora e você sabe intimamente que vai sofrer.
Mesmo assim, você se arrisca. Porque não faria isso? Tem a seu favor a ousadia tão comum de quando se é jovem.
E então você se percebe mulher.
Batom, rímel, cabelos, espelhos.
E o seu coração dispara quando sabe que ele vai chegar, pegar o seu violão e cantar canções que ficarão para sempre.
Olhares se cruzam e você espera que sejam mais do que simples olhares.
Ele traz um mundo diferente do que você conhece. Seus sonhos são de liberdade, ele sonha voar, e você viaja pelos sonhos dele, como se fossem os seus.
Mas não são. Você sabe que não são.
Mas porque não embarcar? É loucura, você sabe. 
Mas que loucura boa! Que doce o seu sabor!  
Foram apenas alguns dias, ou terá sido meses... anos?
Durou quanto tempo? Mais tempo do que você sonhou, menos tempo do que desejou.
Foram dias felizes, diferentes, com sabor de morango e chocolate.
Ele alçou voo, e você não pôde acompanhá-lo.
Lágrimas vieram, mas isso já era uma certeza, e mais certeza você teve que a dor nunca passaria.
O coração da mulher ainda era da menina, não se preparou para o adeus, apenas viveu.
E vivendo aprendeu.
O tempo passou, a garota cresceu, outros amores vieram e se foram.  
E hoje, o amor está novamente presente.
O amor é algo pelo qual se vale à pena, mesmo que nos conduza ao inferno dos nossos dias.
Hoje você sabe.
É algo que não está no outro, mas em nós mesmos. Temos em nós essa imensa capacidade de sentir amor, mas precisamos de alguém que nos desperte, que nos mostre o caminho.
Foi isso que aquele rapaz fez por você. Despertou o seu amor, te mostrou o caminho.
E por isso ao ouvir as canções que ficaram para sempre, você lembra dele com um sorriso no rosto.  

terça-feira, 15 de abril de 2014

Lázaro e a Borboleta!

Nota da autora - Em vésperas de Paixão de Cristo, eu tinha que escrever.

Tinha que escrever, e tentar com que as palavras me ajudassem a compreender tantos sentimentos guardados aqui dentro do meu coração.
Me perguntaram porque esse personagem, porque Lázaro? Dentre tantos que poderiam muito bem entrar na história da peça, porque um que nem esteve presente na ressurreição.
Todos que já escreveram um texto para a Paixão de Cristo sabem da importância da renovação de se contar uma história tão conhecida por todos.
É uma maneira de sempre estar levando as pessoas a pensarem sobre a morte e ressurreição sobre novas perspectivas, sobre outros olhares.
Mas Lázaro?
Sim, aquele que esteve morto e que Jesus trouxe à vida. Aquele à quem Jesus chamou para a vida.
Mas chamou para qual vida?
Não sabemos o que aconteceu depois desse episódio na vida de Lázaro, mas podemos refletir sobre a pessoa dele como nosso espelho, no sentido de tirar a venda dos olhos, caminhar sem amarras, enfim, olhar para o mundo diferentemente do que estamos acostumamos a ver.
Então, essa mesma pessoa que me perguntou porque Lázaro, também me respondeu que não fui eu quem escolhi esse personagem, foi Deus quem o colocou na minha vida, e sendo assim, Lázaro é o meu sinal.
"Sinal de que eu preciso tentar ouvir o meu nome, silenciando o meu coração."
Essa última frase foi uma revelação. Eu sempre digo: palavras me revelam.
Silenciar o barulho que existe dentro de mim, para que eu possa ouvir quem eu sou, o que eu quero, o que eu espero, as coisas que verdadeiramente eu amo, que dão prazer, e que mostram pontinhos de luz de um paraíso que tão cruelmente nós mesmos negligenciamos.
Preciso a cada dia despertar como se minha noite fosse a pedra sobre o meu túmulo, e ao abrir os olhos, tentar enxergar as coisas de uma maneira toda nova.
Uma nova chance a cada manhã, a cada meio dia, a cada tarde, a cada anoitecer.
Todo segundo de nova breve existência é uma, como diz o texto:
"...nova chance de novas escolhas e transformação.
A mesma que faz com que a lagarta se encerre em seu casulo e que surpresa ganhe asas, assim somos nós..."
Lagartas que se encerram, Lázaros que são enterrados.
Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Todos que me conhecem sabem o carinho que sinto por esses seres que, transformados em delicadas borboletas voam pelo céu.
E as irmãs de Lázaro, quem são em minha vida?
São os anjos que chamo de família, que chamo de amigos, ou até aqueles que nem conheço, que nem vão muito com a minha cara, mas que estão lá porque precisam fazer com que eu enxergue, com que eu caminhe.
Fazer com que eu voe!
Neste momento são aqueles que estão sonhando junto comigo na realização deste projeto de levar e ser sinal da presença de Jesus na vida de cada um que nessa sexta feira irão nos assistir.
São meus parceiros nessa empreitada, nessa ousadia de querer cruzar céus.
E mesmo que seja só um coração, nossa missão já estará sendo cumprida.
Porém, mais do que tudo, se Lázaro for sinal desta presença na vida desses meus irmãos, então a pequena borboleta já estará feliz!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Rios!


"Que os braços sentem, que os olhos vêem, que os lábios sejam dois rios inteiros, sem direção"
Skank

E o que se escreve, se escreve com sangue, se escreve com desejo, se escreve com alma.
Quis agora escrever algo sobre o amor, a alegria em se estar junto em qualquer momento, em qualquer situação. Porque...

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo, sabe que a qualquer momento, ele pode voar." 
Rubem Alves


Um quarto à meia luz. Lençóis e travesseiros. Duas taças e o vinho que embriagara a razão, ainda insistia em colorir o final da garrafa.
O braço sobre o peito.
A brancura de dois corpos que se tornaram um e se misturavam aos tecidos largados sobre a cama.
O calor que atravessara a noite, rompendo a manhã de outono, despertando dois olhos que se encontraram em um sorriso.
E novamente um beijo, e outra vez o toque, sem mais a companhia do medo, da insegurança. Sem a sombra do erro ou do arrependimento.
Eles eram agora unidos para sempre em suas histórias.
No livro do universo haveria para sempre aquelas páginas de dois seres que fizeram com que a vida ganhasse mais luz, mas sentimento.
Para sempre!
Se olhavam devagar, percebendo cada detalhe que havia se perdido naquelas horas de entrega, descobrindo cada milímetro do corpo do outro que se fizera tão seu.
Se olhavam como a primeira vez!
Se olhavam como que se despedindo de cada segundo, um após outro, e fazendo guardar em suas memórias tudo que haviam vivido.
O amanhã poderia chegar a qualquer momento, então, novamente eles se entregavam ao abandono daquele amor.
Eram rios, que tinham se encontrado em seus caminhos, mas que seguiriam o curso das suas águas.
A porta seria aberta, e o adeus era uma certeza, mas eles não se importavam com isso.
Há momentos que se tornam eternos e valem por toda uma vida.

Uma pessoa!

"O Poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente."
Fernando Pessoa

Nota da autora - Gostaria de escrever docemente, assim como Fernando, mas diferente dele, sou apenas uma pessoa.

Então... ele estava lá.
Apenas estava, ninguém o via.
E ele se escondia em sua própria solidão. Era bom estar ali.
O seu lugar, era onde ele verdejava, era onde ele passarinhava, onde nuvem se fazia.
Tinha algo de Rubem, de Manoel, de Guimarães.
Em seu pequeno coração, sentia que era meio desajustado.
Não pertencia à lugar algum. Era vento.
Esse devia ser o motivo pelo qual sempre esteve alheio ao mundo, porque seu mundo ia além das janelas.
Passarinho preso na gaiola.
Tinha em sua boca, um gosto de saudade!
Saudade, nem sabia de que.
Tinha delírios. Rasgar-se.
Mas o seu canto, há o seu canto, este sim conseguia atravessar as grades e romper os ares.
Na sala, tudo era tão igual.
Então, por algum descuido, um dia, deixaram a porta meio aberta.
Através do meio, ele viu o mundo inteiro.
Com seus pequenos olhos curiosos, viu que tudo era muito bom!
E ousou.
Quis voar, quis conhecer. Foi atrás do que lhe daria paz.
Se a maçã era o fruto que lhe daria asas, era ela mesmo que ele iria comer.
E as pessoas o olharam com estranheza e surpresa.
O menino quieto, que todos conheciam como sério, tão sensato... de onde aquele riso que surgia em seu rosto?
Onde queria chegar?
Porque ir atrás de sonhos? Sonhos não alimentam.
Existem coisas que jamais iriam compreender, e ele respondeu: sonhos são o meu alimento!
-Mas são borboletas! Não pode ficar com elas, morrerão assim que alcançá-las.
-Haverá outras! A beleza está no caminho! Quero um novo quadro para mim! Pintá-lo do meu jeito, com os meus pincéis, minhas cores, minhas linhas que nunca se encontram, e se não fizer sentido algum para quem quer que seja, será para mim o meu maior troféu!
Então ele foi, deixou sua antiga veste, tornou-se encanto, e fez da sua vida o que sempre quis.


  

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Eva!

"...delírios irracionais da imaginação fazem mais bela nossa linguagem. Tomei nota desse delírio em meu caderno de frases."
Manoel de Barros - Delírios

Então, lá estava ela.
Lá estava... Eva!
A Dona, a Mulher, a Única.
O ser que veio e tudo mudou.
Preencheu a vida. Nua.
A Malícia que se deliciava.
A Criança que tudo admirava.
Coloriu o jardim com sua pele, seus cabelos. Invadiu o ar com seu perfume, sua voz, sua respiração.
Casta. Flor em botão.
Delicada e Forte.
Diante dele, Ela se revelava.
E ele diante da Beleza se entregava.
Ela o dominou e o tempo parou.
Todas as noites eram de estrelas e todos os dias eram de sol.
Sol, marejado de chuva.
E ele descobriu a força que se concentrava e explodia todas as vezes que Ela o tocava.
Descobriu o cansaço misturado ao prazer quando deitava em seu corpo, e assim aquecido e em paz ele dormia.
Eva! Todos os dias! Todas as noites!
Em uma manhã, uma maçã... linda, saborosa, uma fruta como nunca se viu.
Ela a provou.. seus olhos se abriram e a roda da vida girou.
Descobriu que seu templo era muito mais que um lugar de prazer.
Percebeu que o mundo era muito mais que um jardim.
Dona de si, quis conhecer outros mares, outros solos, outros sonhos.
Sexo que nunca foi frágil, mesmo assim, muitas vezes, sofreu e chorou.
Mas seguiu.
Em seu caminho, nada foi fácil, mas Ela venceu.
Eva... em todos os tempos! Dela, somos todas herdeiras. Discípulas do vento, Livres, Inteligentes.
Essências de Eva!
E todas nós algum dia, vamos estar diante de uma maçã.
A maçã que nos apresenta a vida, e vida que se reverencia à nos!






quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um por cento


Nota da autora - ... com uma conversa, uma reflexão.

 "Era uma vez um homem. Possuía cem ovelhas.
Um dia uma delas lhe fugiu, e ele nunca mais foi feliz."

Cada um de nós, em nossas vidas, temos nossos valores, que podem ser família, amor, amizade, felicidade, espiritualidade, sucesso, saúde, paz, entre tantos outros. 
Divididos eles estão em prioridades, cada um ocupando seu espaço dentro da gente.
Os espaços que eles possuem formam a nossa totalidade, sendo preenchidos, fazem com que nos sintamos completos, realizados. 
Mas aí entra um tipo de maldição. Do barro em que fomos criados, alguma pedrinha diferente foi juntada, ou então tirada, quem sabe sem querer, ou por querer - um capricho à mais do Oleiro.
Por mais que tenhamos, estaremos sempre em busca de algo, e colocamos neste objeto de desejo - que pode ser qualquer coisa - toda nossa expectativa de nos sentirmos felizes.
Nos faremos surdos aos apelos de "Você tem tudo, porque vai atrás disso?" "Vai deixar tudo que tem por uma coisa assim?"
Temos que ir, temos que deixar, é o que move a nossa vida.
É o que faz a diferença entre estarmos vivos e nos sentirmos vivos. 
É o que nos faz ter a ilusão de preencher o espaço vazio que nunca será.
Pode parecer ruim essa eterna procura, mas olhando atentamente veremos que essa busca é também o que nos traz os grandes pensamentos, as grandes descobertas, as transformações... a evolução.
A nossa própria, individual.
Pode não valer muito para os outros, eles nunca entenderão. Porque isso é nosso. 
É a nossa busca, o nosso desejo, a nossa salvação. 
Teremos sempre o estigma da ovelha perdida. A ovelha que será sempre o nosso um por cento que falta.  
E quantas vezes abrimos mão desse um por cento. Quantos um por cento já se foram, por nossa falta de coragem, por nos deixarmos convencer de que não é tão importante, de que podemos viver sem. 
"Mas é apenas um por cento."
 Não importa, 99 não é 100.


quinta-feira, 13 de março de 2014

Vença!

Nota da autora - Este texto foi inspirado na leitura que fiz do seguinte trecho:
"Aonde vamos? Será que venceremos? Qual a razão deste combate? - Cala-te. Os combatentes jamais perguntam."
Nikos Kazantzakis - Ascese

Espero que possa inspirar alguém também.

Marcham os homens sobre a terra.
Incertos do que deverão fazer.
Assumem seu trabalho sem colocar nele sua alma, e então se perguntam - "Para quê?"
Pobres criaturas esses homens, condenados estão a própria derrota, não acreditam, não se acreditam. Caminham inválidos, cegos, coxos, mudos.
Nasceram para voar, mas insistem em rastejar.
Amam a terra, acreditam na premissa "nasceu do pó e ao pó voltará!"
Não, homens, digam não!
A sua matéria pertence à terra, mas seu espírito é do ar. Invisível, imutável.
Onde está o seu valor homem?
Onde está o sua alma, a chama de quem aspira pelos céus, onde está?
Permite a corrente, permite a prisão.
Porque homem?
Onde está a tua força?
Combate a você mesmo criatura, trava a tua luta, vence à você.
Queira a vitória. Queira o seu aplauso.
Não se contente, não se acomode. Luta!
Seja o seu general!
Assuma o seu papel neste grande teatro chamado Vida!
Deixe de assistir, atue!
É disso que você é feito. Não da massa que morre.
Mas do espírito que triunfa!
Transcenda do seus limites, e creia: Não há limites!
Seja o primeiro, seja o espelho em que muitos se inspirarão!  

terça-feira, 11 de março de 2014

Exílio


                                                                            Foto - Rafael Franceschini

Nota da autora - Às vezes é necessário o profundo recolhimento, para que algo novo aconteça. É minha esperança!

Aquela manhã ele despertara com um novo entusiasmo.
Hoje sinto que conseguirei - ele pensou.
Sentou-se em frente a sua máquina de escrever, estalou os dedos e começou a apertar as pequenas teclas.
No início, as palavras vinham com facilidade, uma após outra como um rio fluindo caudaloso, formando e dando vida aos seus pensamentos que pouco a pouco iam sendo colocados no papel para o seu novo texto.
Ele sentia-se feliz, esse era o sentido da sua vida. Foi para isso que havia nascido. Para escrever!
Não tinha ilusões de ser grande, nem de mudar coisa alguma, o que importava era aquela ânsia em se descobrir através das palavras.
Mas ultimamente, essas mesmas palavras que ele tanto amava, estavam abandonando-o. Ele não entendia o motivo. E sofria.
Passava horas tentando colocar um pensamento, uma ideia, porém depois ler o que havia escrito, amassava o papel e o jogava fora. Seu cesto de tão cheio, despejava os papéis para fora. Ele os percebia e pensava "quanto tempo desperdiçado." 
Mas agora seria diferente, ele sentia isso. 
Elas estavam novamente deitando com ele em sua cama, e eram um único ser.
O êxtase tomava conta de seu corpo, ele suava, enquanto apaixonadamente beijava cada uma delas. 
Mas de repente, sem esperar, o calor se dissipou. Ele desesperadamente ainda tentou duas, três frases, mas não adiantava mais, sua amante novamente o havia deixado.
Ele olhou com tristeza para o papel à sua frente. Leu o que havia escrito, mas não fazia mais sentido algum manter aquele texto. Ele tinha morrido.
Levantou-se de sua cadeira, pegou seu cigarro e sentiu mais uma vez o peso do abandono.
O que ele precisava fazer conseguir finalizar uma história? Ou o que estava fazendo errado? 
Ele não sabia.
Talvez houvesse se esgotado. Talvez dele, nada mais as palavras poderiam extrair, para satisfazer o prazer que sentiam ao serem transformadas em entes que eram lidas por outros.
Um sentimento de perca foi tomando conta dele. O que faria agora?
Ficou olhando a fumaça que subia de seu cigarro que ele depositara sob o cinzeiro, sem nem tê-lo colocado na boca. 
Então, um pensamento lhe ocorreu:
"Aceitarei minha tristeza até o fim, mergulharei nesse vazio que minha alma insiste que eu viva, aceitarei o exílio que as palavras me condenaram, esgotarei todas as minhas frustrações, e se preciso for, permanecerei nessa solidão por quanto tempo for, viverei nessa escuridão até que seja merecedor de, novamente enxergar a luz."

     

quarta-feira, 5 de março de 2014

Erros e Pecados!

Outro dia sentada no banco da minha varanda, eu e meu distinto marido começamos a falar sobre a vida, sobre os filhos, trabalho, planos para o presente.
O dia estava se findando, logo a noite chegou e nós continuávamos ali, recebendo as pequenas estrelas que apareciam no céu. O céu da nossa casa não é como o céu do interior. Lá, ele é negro e talvez por essa razão, nele as estrelas são mais visíveis. 
A luz é mais visível na escuridão... isso dá um texto, mas fica para a próxima. 
Talvez também por estarmos falando sobre o céu, nosso coração nos levou a falar sobre Deus.
Quero dizer, a conversa não diretamente a Ele, mas sobre erros e pecados.
Qual a diferença entre os dois? Existe diferença?
Se o pecado é um erro, o erro será sempre um pecado?
É, eu sei, nos aventuramos por caminhos filosóficos que às vezes não levam a lugar algum, mas antes que cheguemos a essa conclusão, muitos caminhos são percorridos.
E foi por caminhar que chegamos a seguinte pergunta:
- Será que Jesus errou?
E o meu coração formulou a resposta que chegou à minha boca, e minha língua pronunciou as palavras:
- Acredito que sim, pois se foi um homem como nós, como poderia não ter errado.
A minha alma pequenina só compreende aquilo que ela conhece, sendo assim, como poderia eu compreender um Deus que é perfeito? Como poderia eu, Alcançá-lo? 
A imperfeição de que sou feita não pode alcançar a um Deus que nunca errou.
Talvez tenha errado sem a intenção de errar, como quando deixou seus pais aflitos por não saberem que Ele, criança, se encontrava no Templo, falando aos doutores. 
Talvez também, inocente, quando deu a resposta que pode ter magoado o coração de José, ao dizer que estava na casa do Seu Pai.
E quando a mulher lhe mostrou que Ele tinha vindo para todos, e não apenas para um grupo de pessoas.
Em nenhum dos casos, houve a intenção de errar. Houve sim a inocência e o reconhecimento do erro.
Pensando assim, será que esta poderia ser a diferença entre pecado e erro? 
O erro é um pecado quando não há inocência, quando não se reconhece que errou, quando não existe arrependimento?
Eu ainda não tenho certeza.
Tenho muito ainda que conversar com meu marido. 
E isso me leva a pensar em outra coisa. Uma afirmação de Nietzsche sobre o casamento:
"Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa, até a sua velhice?"
Tudo o mais em uma relação é transitório, mas o que fica é a capacidade de sentir prazer ao conversar, ou seja: 
O prazer em um casamento não se dá apenas na cama, fazemos amor também conversando, e neste caso, falando sobre Deus.
Sem inocência, sem arrependimentos... será isto, pecado?
  

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

"..."


... então ele terminou o livro e ficou pensando em seu conteúdo. De uma maneira particular a autora não deu aos personagens um final. Deixou as possibilidades.
Haveria quem sabe um segundo livro? Seria essa a intenção?   
Muitos escritores contemporâneos estavam optando por esse tipo de escrita. E era interessante o processo de ficar aguardando a continuação de uma história, alguns não tinham paciência para isso, mas a maioria encarava com grande expectativa o lançamento de mais uma parte.
Seria esse o caso?
Ficou refletindo sobre isso, gostava de ficar pensando no por quê das coisas.
A gente nunca sabe o que realmente passa pela cabeça do artista quando ele realiza sua obra, e isto também o fascinava, porque a arte é algo que ganha vida depois de pronta. Ela depende do seu criador para existir, mas depois de pronta ela cria asas e atinge as pessoas de um jeito muito singular.
Ela nunca tem um ponto final. Está sempre se transformando pelos olhos, ouvidos, coração.
Assim pensando, colocou uma música para ouvir. Uma sinfonia. Gostava de depois de uma leitura ficar ouvindo uma composição, os acordes lhe ajudavam a refletir.
Nesses momentos seus pensamentos pareciam cavalos selvagens soltos na campina.
"Para que colocá-los sob rédeas. São lindos, livres.
Se pudéssemos, assim como os pensamentos, também nós sermos livres. Não a liberdade que negligencia as responsabilidades, mas que nos possibilita vermos a vida de uma maneira nova. A liberdade que nos dá a chance de nos questionarmos, de mudarmos de opinião sem sermos tachados de não termos personalidade. A liberdade de nos moldar conforme as oportunidades que nos são oferecidas. Como as grandes obras de tantos artistas, vistas e sentidas de tantas maneiras diferentes. Nenhuma delas, um ponto final. 
A liberdade talvez consista em manter longe de nós o ponto final. Melhor uso seria as reticencias. 
Assim como a escritora do livro, que deixou em aberto algumas questões, para que nesse momento eu refletisse além de seus personagens, a minha própria vida. Estou aqui deitado em meu sofá, mas daqui a pouco posso estar em outros lugares, ser de outro jeito que não este. Assistir a algo que me faça mudar de ideia quanto a alguma coisa, amar e sentir as pessoas como eu achar que seja melhor, dar-me a chance do perdão, da amizade, de acertos e erros que sei que vou cometer. Nada se perdendo. Tudo se somando. Nada finalizando.  
Nem a morte é sinônimo de fim."
E pensando assim, ele acabou por dormir e sonhou com cavalos selvagens correndo soltos pelas campinas.



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A Sombra de Deus

                                                                                    foto Rafael Franceschini

"Certa vez, perguntaram a Albert Einsten qual era a definição da luz.
Einsten, em um de seus mais inspirados e geniais momentos respondeu:
A luz... é a sombra de Deus."


O despertador tocou. Minha mão fez o movimento mecânico de todas as manhãs, silenciando aquele que me acordava. Eu não tinha vontade de sair de minha cama, ela me abraçava e me acolhia.
Abri meus olhos e a imagem do teto veio até mim, representando o nada. 
Fiquei ali por alguns instantes, mas a lembrança de que daqui a alguns segundos "ele" tocaria novamente fez com que eu soltasse um suspiro de derrota e me levantasse.
Abri a janela do meu quarto.
O sol tocava lentamente a cidade. Como o amante que delicadamente repousa e desliza sua mão sobre o corpo de sua amada, na tentativa de acordá-la, assim eu via aquela luz sobre os prédios que amanheciam.
Porém, mesmo nesse momento de intensa beleza, estou respirando minhas fraquezas.
E o hálito que vem é amargo. 
Não quero permanecer forte, visto que não sou, então deixo que a escuridão tome conta e me leve para o fundo do que me cabe.
E tantas coisas me cabem.
Sou um vácuo, um buraco negro.
Ninguém pode ser eu, e eu não posso mesmo ser ninguém, e aí mora a mais verdadeira solidão.
Estou sozinha!
E ninguém virá, nem ouvirá meu grito onde sufoco o medo deste silêncio.
Então, porque me sentindo a pior das criaturas, ainda assim, contemplo essa luz que atravessa os céus, viaja pelo espaço e chega até mim?
E invade meus cantos e porões... e aquece a minha casa vazia?







  

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Eu por mim mesma!

Outro dia uma amiga comentou comigo que ao ler meu perfil aqui no blog, percebeu que eu não escrevi quem sou, falou que o que escrevi são consequências, não me identificam como pessoa, achei esse comentário interessante, para não dizer intrigante.
Vivo pregando a ideia de que devemos mergulhar nas coisas, em nós mesmos, mas às vezes é tão difícil.
Tentarei alguma coisa assim aqui, agora. Fiquei curiosa para saber o que as palavras me revelarão.
Eu sou aquela que espera.. uma espera que nem sei exatamente o quê. Uma espera inconsciente talvez.
Uma espera que me mantém sempre atenta ao que acontece ao meu redor.
Mesmo sendo assim, sei que muitas vezes me perco, isto é realmente engraçado, porque como pode alguém tão observadora ser também tão desligada.
Muitos, antes de me conhecer, acreditam que eu seja uma pessoa arrogante, por quase sempre não vê-los próximos à mim. Acho que eu vivo muitas vezes em outros mundos.
Gosto de viajar em meus pensamentos.
Talvez eu seja bem egoísta, em perceber com mais facilidade a natureza do que as pessoas, é uma confissão, eu sou assim. Não faço por mal, acho que tenho a alma conectada ao vento.
Sou muito calma por fora, raramente alguém me verá falando alto, mas isso não faz de mim uma mansidão, sei que por dentro tenho uma força que me devora.
Sou aquela que sempre espera o melhor. O melhor de mim mesma, o melhor da vida, o melhor das pessoas.
Sou um ser de esperanças!
Me cobro demais. Tudo é causa para que me sinta culpada, mesmo sendo inocente.
Mas eu não me engano, sei que não sou santa.
Sou daquelas que choram ao assistir um desenho animado, e ri como uma doida por qualquer bobagem.
Que se pergunta à todo o tempo qual é o meu papel.
Tem razão a minha amiga, ao dizer que eu não sou só apenas mãe e esposa ( eu disse apenas ? ) isso já é de uma coragem imensa, mas não é isso que me define.
O que me define, é muito maior do que eu posso imaginar, eu não consigo me dar uma definição. Prefiro ser aberta aos meus erros e acertos, as minhas vitórias e fracassos, as minhas frases que ficaram no silêncio do meu coração.
Acho que eu sou palavras. Palavras que nunca serão ditas ou escritas, mas também aquelas que serão proferidas com  meu jeito tímido de ser.
Acho que ao longo da minha vida vou me descobrindo. Vou me testando, me enfrentando.
Deixando ser moldada, como barro sendo aos poucos construída.
Alguém que se refaz todas as vezes que a morte ( este processo que nos alcança sempre quando necessitamos de uma mudança ) vier me visitar.
Sou alguém que se surpreende ao perceber uma nova forma de olhar.
Alguém que tenta entender que na vida não há certezas, que todas as formas são interessantes e que sempre haverá alguém, no momento mais improvável que te revelará um pouco do mistério de ser humano.
Sou alguém que acredita em sinais. Alguém que vê anjos que não possuem asas. Alguém que sempre valoriza um outro alguém.
Sou um monte de dúvidas, várias perguntas que provavelmente nunca conseguirão respostas.
Tenho muito medo da morte ( aquela que encerra o nosso corpo ) confesso isso também.
É tão bom viver!
É tão bom sentir o vento, é tão bom sentir o mar, é tão bom sentir e amar, sentir o perfume da vida, o perfume do outro... será que estas belezas existirão em outro lugar?
Espero que sim. Sinceramente eu espero!
Eu espero!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Renascer!

Fiquei olhando para essa imagem e pensando: dentro de uma casca dura e seca, ainda existe vida.
Não estudei teologias, nem tenho conhecimento sobre o mundo, o que penso são apenas instintos, vindos de diversos caminhos, pelos quais já trilhei; pessoas com quem conversei e que alimentaram minha pequena alma.
Sempre fui uma pessoa que observa a vida e que encara pequenos sinais como luzes que podem orientar-nos quando estamos perdidos. Talvez eu não tenha caminhado pelas estradas mais fáceis, e isto fez com que me sentisse sem direção muitas vezes, mas também penso que existe no universo uma força que gira à nosso favor, fazendo com que tenhamos a percepção de enxergar com outros olhos o que antes nos parecia morto.
Como o pequeno broto da imagem que mesmo frágil rompe a casca dura, assim é a energia que nos impulsiona a seguir em frente, apesar de todas as forças contrárias que querem ceifar nossos sonhos, alegrias, motivações.
Rubem Alves, meu querido poeta dos jardins, nos fala que é necessário passarmos por metamorfoses para que alcancemos a nossa plenitude. Metamorfoses que para mim significam processos de morte e vida. Morrer muitas vezes para tudo que nos causa dor e sofrimento, e renascer, com mais força, com mais brilho.
Essa morte que nos visita sempre que precisamos de uma mudança, e para a qual devemos sempre abrir a porta, é uma irmã que nos abraça, como a nos dar esperança de que dias melhores virão.
Temos em nós a sabedoria das lagartas que trazem em si a essência das borboletas. 
Alcancemos os céus!    

"Sair de seu poço sombrio de desespero e entrar na luz pode parecer doloroso no início: claro demais, excessivo, cedo demais.
Mas assim que você inspirar o ar e o amor com sabor de mel ao seu redor, você se perguntará por que já teve dúvidas para sair.
E a primeira vez que você esticar seus braços para tocar o céu... felicidade!"
(Alma hippie)
     
  

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Mãos de Deus!

No começo era o Verbo...
A palavra.
E a palavra por si somente se bastava
Somente, semente!
A palavra era a semente.
E a semente entre ventos, caiu na terra e a terra foi abençoada!
Chuvas vieram e a água sagrada transformou a terra, que germinou a semente.
E ela aprendeu que para viver deveria se romper.
Rasgou-se e sua essência transformou-se em palavras.
Palavras que voaram ao vento e viajaram no tempo.
Carregando em si fragmentos da primeira criação.
E as palavras tomaram outras formas, formaram outros seres, 
outros nomes, novos perfumes.
Nessa dança de palavras e sementes tudo é milagre!
Porque como é possível que de uma semente tanta vida seja formada?
Há de se existir uma força que a rege,
Como um maestro que sabe exatamente onde uma nota termina e a outra começa
Para que a sinfonia das palavras toquem a vida
Toda semente é força concentrada, assim como a palavra é força em movimento
Que faz girar a roda
Onde estamos todos ligados, como uma ciranda
E o início é onde tudo termina.
No começo era o Verbo...
...a palavra, somente semente!

http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=XB97k312nDw

Coisinhas de passarinhos!

Passarinho sozinho à cantar
A cantar a beleza do que vê
O seu canto é a maneira de exaltar
A natureza que agradecida lhe sorri.
Fica feliz o solitário passarinho
Ao perceber que o seu canto lhe agrada
Mal sabe ele, pequena criatura,
que é sua imagem que reflete aquelas flores.
Que ele faz parte de uma mesma tela 
Que compõe a mesma vida, as mesmas cores
E que sem ele o quadro não teria
O mesmo sonho, as ilusões e os amores.
  Só vê beleza quem as tem
dentro do peito
Quem nem supõe
O valioso dom que tem
Talvez seja esse o segredo
Onde se pintam a quatro mãos  
o mesmo enredo.
Porque a vida é assim que tem que ser
Existimos, criamos, nos viramos
mas sem o dom dos pequenos passarinhos
Seríamos apenas mais um canto!