sexta-feira, 12 de junho de 2015

Ah o amor!

Cena do filme Alguém tem que ceder

Ah o amor!
Fonte de inspiração para escritores, compositores, pintores e porque não dizer, para aqueles que nunca sonharam com obra alguma, apenas querem viver esse sentimento que tanto faz sonhar.
Que nos tira o chão mas que também pode nos atirar ao chão. E deixo livre para imaginar o que pretenderem com esse "atirar ao chão".
Quantos caminhos e descaminhos para encontrar esse, que é responsável por nossas lágrimas e também por nossos risos. Que nos rouba o sono ou que nos faz sonhar o mais lindo dos sonhos.
Um sentimento que nasce em nós, que é só nosso, porém muitas vezes, depositamos no outro, bagagens com nossas carências, nossa fragilidade, nossa insegurança, cegando-nos para uma verdade muito real e palpável, antes de amar o outro, amemo-nos primeiro, porque tudo na verdade começa em nós, herança de uma força maior que nos formou.
Quem pretende aprisionar o amor, ah pobre infeliz! Quem o queira manter acorrentado, que triste empreitada. Já dizia um sábio "amor é pássaro encantado", que perde todo seu mistério aprisionado em gaiola, mas que livre sempre estará por aqui.
O que o amor quer é espaço. O que ele precisa é entendimento de que nada é pra sempre e por isso cada instante é eterno.
O que o amor quer é crescimento, individual e com outro, mas arrisco dizer que, novamente deve começar em nós, pois só o crescimento próprio dá alicerce ao amor, lembrando que para crescer, alguém tem que ceder!
O que o amor merece é respeito que nasce nas diferenças de cada um. Benditas sejam as diferenças que somam, que esclarecem, que nos tornam pessoas mais conscientes e contribuem para a evolução de cada um e consequentemente do mundo inteiro.
O amor é um exercício diário que nos fortifica, que nos alimenta. "Nem só de pão vive o homem, mas de todo amor que sai da boca de Deus" , parafraseando para compor meu pequeno texto.
E o amor está aí, para quem quiser, como o maná caído do céu, gratuitamente nos dado como manifestação do próprio amor.
"Quem tem olhos, que veja!"
Ah sim, é preciso enxergar para se ver. Mesmo que para isso tenha que se manter  uma certa distância.
É preciso como alimento muita, muita paciência! Porque o outro as vezes não colabora, faz coisas estranhas, que não combinam, mas isso porque ele é único. 
Único para nós, e único porque é um ser que possui as suas particularidades, e poxa, não foi isso mesmo que tanto nos encantou?
Dizem que é para os fortes, eu ouso dizer que é para nos tornar fortes!
E viva esse amor romântico que oferece flores, que abre a porta do carro, que manda uma mensagem, que aquece todos os momentos da nossa vida. Que se preocupa, que protege, que aconchega!
E aplausos para esse amor realista que briga conosco para que "enxerguemos" o que não queremos ver, verdades que precisam ser vividas. 
Que sempre nos salve esse amor que nos apoia em projetos e sonhos, que seja a nossa bússola que nos orienta a encontrar outros e novos caminhos quando não vemos o horizonte.
Que esse amor possa ser nosso horizonte! Que nunca desistamos dele, apesar dos desencontros da vida!
Que dancemos na chuva, que nos amemos em todas as noites, que deitemos no chão ou em areias da praia, que olhemos o céu e vejamos o outro em todas as estrelas.
E que Deus nos abençoe para que possamos dar o nosso sempre sim de cada dia!




Something's Gotta Give - tema do filme "Alguém tem que ceder"    
     

terça-feira, 2 de junho de 2015

O anel





Estava eu outro dia procurando alguns acessórios que combinassem com meu vestido e maquiagem, pois iria a um casamento.
Brincos, gargantilhas, anéis... Foi então que meu olhar se "abriu" para um pequenino anel perdido entre outros. Digo que "abriu" porque na correria de procurar alguma coisa a gente apenas olha, sem enxergar o verdadeiro valor de cada peça que possuímos. Não que todas tenham que ter algum valor sentimental, mas esse em especial tinha sim.
Minhas lembranças se confundem sobre ele, não sei ao certo quando o ganhei. Talvez no meu aniversário de 15 ou 18 anos, mas pode ter sido também quando concluí o ensino fundamental, e isso já se vão uns 30 anos. Faz tempo...
Assim como faz muito tempo que as pessoas que me deram, partiram daqui. Meu avô se despediu primeiro, e depois de alguns anos, minha avó.
Muitas lembranças vieram quando prestei atenção naquele pequenino, e continuam a vir. 
Fiquei pensando no carinho que tiveram ao escolher uma pequena joia, para celebrar algo importante na vida de sua neta. Eles não eram de muita posse. Vindos do interior, sempre batalharam muito para dar aos filhos - seis - o alimento e a roupa de cada dia. Assim como também fizeram de cada um deles pessoas dignas. 
Lembro-me do casamento de algum deles. Lembro-me do nascimento de alguns primos. Dos almoços de domingo. Festas de final de ano. Da bagunça que fazíamos. Das nossas festas juninas, meus avós sempre foram extremamente religiosos, e nessas ocasiões sempre erguíamos o mastro de São João, Santo Antonio e São Pedro, costume que trouxeram lá de Bueno Brandão.

Lembro-me de minha avó penteando meu cabelo, para que eu fosse a escola "arrumadinha" como ela dizia. E aos sábados um prato de comida - arroz, feijão, farinha de milho, salada de alface e coxinha de frango - que saudade!
Minha avó nunca foi de ficar falando do seu amor pelo meu avô, mas um dia quando perguntada por uma criança, quem era ele, ela respondeu "É meu namorado".
Uma outra ocasião em que precisei de uma cirurgia eles me disseram "não há de ser nada".
Anos depois em que meu avô já havia partido, meu tio também foi embora. Lembro-me de minha avó, recebendo a notícia que nenhuma mãe merece receber, apesar do sofrimento, ela apenas rezou uma Ave-Maria, e o que me tocou e nunca mais fui capaz de esquecer, foi a profunda fé ao rezar o Pai Nosso e proferir "seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu".
Todas essas lembranças me vieram admirando aquele anel.
Lembranças da pessoa que eles foram, dos exemplos que deixaram!
Saudades imensas... não daquelas que doem, mas das que nos arrancam sorrisos entre lágrimas, por trazerem recordações de uma época boa que foi vivida, que valeu à pena, que contribuiu para que eu seja hoje a pessoa que sou.
Já não os vejo, o material de que foram feitos chegou ao final ou voltou ao início. O ouro do anel, entretanto continua aqui, é um material mais resistente que o barro que somos.
Será?
Ou além do anel existe algo mais consistente, mais precioso, e mais sábio que nunca se extingue?
Acredito que sim... Porque, ele é apenas algo material, que para outros teria apenas o valor do que é feito. Mas para mim, ele é presença. Algo que não se troca, que não se vende. 
Um sacramento!
Assim como um ipêzinho amarelo a quem chamo de Rubem Alves, esse meu pequenino anel é para sempre Antonio e Maria, meus avós tão queridos, que hoje estão na presença de Deus.
Minha fé me leva a acreditar que estão juntos em um imenso jardim, abraçados pelo amor sem fim!
E isso se confirma na forma do meu anel. Lembra o infinito, me fazendo pensar que a vida é um eterno ciclo, e o hoje é apenas uma parte dessa viagem, pois o nosso destino não é aqui.