terça-feira, 15 de abril de 2014

Lázaro e a Borboleta!

Nota da autora - Em vésperas de Paixão de Cristo, eu tinha que escrever.

Tinha que escrever, e tentar com que as palavras me ajudassem a compreender tantos sentimentos guardados aqui dentro do meu coração.
Me perguntaram porque esse personagem, porque Lázaro? Dentre tantos que poderiam muito bem entrar na história da peça, porque um que nem esteve presente na ressurreição.
Todos que já escreveram um texto para a Paixão de Cristo sabem da importância da renovação de se contar uma história tão conhecida por todos.
É uma maneira de sempre estar levando as pessoas a pensarem sobre a morte e ressurreição sobre novas perspectivas, sobre outros olhares.
Mas Lázaro?
Sim, aquele que esteve morto e que Jesus trouxe à vida. Aquele à quem Jesus chamou para a vida.
Mas chamou para qual vida?
Não sabemos o que aconteceu depois desse episódio na vida de Lázaro, mas podemos refletir sobre a pessoa dele como nosso espelho, no sentido de tirar a venda dos olhos, caminhar sem amarras, enfim, olhar para o mundo diferentemente do que estamos acostumamos a ver.
Então, essa mesma pessoa que me perguntou porque Lázaro, também me respondeu que não fui eu quem escolhi esse personagem, foi Deus quem o colocou na minha vida, e sendo assim, Lázaro é o meu sinal.
"Sinal de que eu preciso tentar ouvir o meu nome, silenciando o meu coração."
Essa última frase foi uma revelação. Eu sempre digo: palavras me revelam.
Silenciar o barulho que existe dentro de mim, para que eu possa ouvir quem eu sou, o que eu quero, o que eu espero, as coisas que verdadeiramente eu amo, que dão prazer, e que mostram pontinhos de luz de um paraíso que tão cruelmente nós mesmos negligenciamos.
Preciso a cada dia despertar como se minha noite fosse a pedra sobre o meu túmulo, e ao abrir os olhos, tentar enxergar as coisas de uma maneira toda nova.
Uma nova chance a cada manhã, a cada meio dia, a cada tarde, a cada anoitecer.
Todo segundo de nova breve existência é uma, como diz o texto:
"...nova chance de novas escolhas e transformação.
A mesma que faz com que a lagarta se encerre em seu casulo e que surpresa ganhe asas, assim somos nós..."
Lagartas que se encerram, Lázaros que são enterrados.
Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Todos que me conhecem sabem o carinho que sinto por esses seres que, transformados em delicadas borboletas voam pelo céu.
E as irmãs de Lázaro, quem são em minha vida?
São os anjos que chamo de família, que chamo de amigos, ou até aqueles que nem conheço, que nem vão muito com a minha cara, mas que estão lá porque precisam fazer com que eu enxergue, com que eu caminhe.
Fazer com que eu voe!
Neste momento são aqueles que estão sonhando junto comigo na realização deste projeto de levar e ser sinal da presença de Jesus na vida de cada um que nessa sexta feira irão nos assistir.
São meus parceiros nessa empreitada, nessa ousadia de querer cruzar céus.
E mesmo que seja só um coração, nossa missão já estará sendo cumprida.
Porém, mais do que tudo, se Lázaro for sinal desta presença na vida desses meus irmãos, então a pequena borboleta já estará feliz!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Rios!


"Que os braços sentem, que os olhos vêem, que os lábios sejam dois rios inteiros, sem direção"
Skank

E o que se escreve, se escreve com sangue, se escreve com desejo, se escreve com alma.
Quis agora escrever algo sobre o amor, a alegria em se estar junto em qualquer momento, em qualquer situação. Porque...

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo, sabe que a qualquer momento, ele pode voar." 
Rubem Alves


Um quarto à meia luz. Lençóis e travesseiros. Duas taças e o vinho que embriagara a razão, ainda insistia em colorir o final da garrafa.
O braço sobre o peito.
A brancura de dois corpos que se tornaram um e se misturavam aos tecidos largados sobre a cama.
O calor que atravessara a noite, rompendo a manhã de outono, despertando dois olhos que se encontraram em um sorriso.
E novamente um beijo, e outra vez o toque, sem mais a companhia do medo, da insegurança. Sem a sombra do erro ou do arrependimento.
Eles eram agora unidos para sempre em suas histórias.
No livro do universo haveria para sempre aquelas páginas de dois seres que fizeram com que a vida ganhasse mais luz, mas sentimento.
Para sempre!
Se olhavam devagar, percebendo cada detalhe que havia se perdido naquelas horas de entrega, descobrindo cada milímetro do corpo do outro que se fizera tão seu.
Se olhavam como a primeira vez!
Se olhavam como que se despedindo de cada segundo, um após outro, e fazendo guardar em suas memórias tudo que haviam vivido.
O amanhã poderia chegar a qualquer momento, então, novamente eles se entregavam ao abandono daquele amor.
Eram rios, que tinham se encontrado em seus caminhos, mas que seguiriam o curso das suas águas.
A porta seria aberta, e o adeus era uma certeza, mas eles não se importavam com isso.
Há momentos que se tornam eternos e valem por toda uma vida.

Uma pessoa!

"O Poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente."
Fernando Pessoa

Nota da autora - Gostaria de escrever docemente, assim como Fernando, mas diferente dele, sou apenas uma pessoa.

Então... ele estava lá.
Apenas estava, ninguém o via.
E ele se escondia em sua própria solidão. Era bom estar ali.
O seu lugar, era onde ele verdejava, era onde ele passarinhava, onde nuvem se fazia.
Tinha algo de Rubem, de Manoel, de Guimarães.
Em seu pequeno coração, sentia que era meio desajustado.
Não pertencia à lugar algum. Era vento.
Esse devia ser o motivo pelo qual sempre esteve alheio ao mundo, porque seu mundo ia além das janelas.
Passarinho preso na gaiola.
Tinha em sua boca, um gosto de saudade!
Saudade, nem sabia de que.
Tinha delírios. Rasgar-se.
Mas o seu canto, há o seu canto, este sim conseguia atravessar as grades e romper os ares.
Na sala, tudo era tão igual.
Então, por algum descuido, um dia, deixaram a porta meio aberta.
Através do meio, ele viu o mundo inteiro.
Com seus pequenos olhos curiosos, viu que tudo era muito bom!
E ousou.
Quis voar, quis conhecer. Foi atrás do que lhe daria paz.
Se a maçã era o fruto que lhe daria asas, era ela mesmo que ele iria comer.
E as pessoas o olharam com estranheza e surpresa.
O menino quieto, que todos conheciam como sério, tão sensato... de onde aquele riso que surgia em seu rosto?
Onde queria chegar?
Porque ir atrás de sonhos? Sonhos não alimentam.
Existem coisas que jamais iriam compreender, e ele respondeu: sonhos são o meu alimento!
-Mas são borboletas! Não pode ficar com elas, morrerão assim que alcançá-las.
-Haverá outras! A beleza está no caminho! Quero um novo quadro para mim! Pintá-lo do meu jeito, com os meus pincéis, minhas cores, minhas linhas que nunca se encontram, e se não fizer sentido algum para quem quer que seja, será para mim o meu maior troféu!
Então ele foi, deixou sua antiga veste, tornou-se encanto, e fez da sua vida o que sempre quis.


  

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Eva!

"...delírios irracionais da imaginação fazem mais bela nossa linguagem. Tomei nota desse delírio em meu caderno de frases."
Manoel de Barros - Delírios

Então, lá estava ela.
Lá estava... Eva!
A Dona, a Mulher, a Única.
O ser que veio e tudo mudou.
Preencheu a vida. Nua.
A Malícia que se deliciava.
A Criança que tudo admirava.
Coloriu o jardim com sua pele, seus cabelos. Invadiu o ar com seu perfume, sua voz, sua respiração.
Casta. Flor em botão.
Delicada e Forte.
Diante dele, Ela se revelava.
E ele diante da Beleza se entregava.
Ela o dominou e o tempo parou.
Todas as noites eram de estrelas e todos os dias eram de sol.
Sol, marejado de chuva.
E ele descobriu a força que se concentrava e explodia todas as vezes que Ela o tocava.
Descobriu o cansaço misturado ao prazer quando deitava em seu corpo, e assim aquecido e em paz ele dormia.
Eva! Todos os dias! Todas as noites!
Em uma manhã, uma maçã... linda, saborosa, uma fruta como nunca se viu.
Ela a provou.. seus olhos se abriram e a roda da vida girou.
Descobriu que seu templo era muito mais que um lugar de prazer.
Percebeu que o mundo era muito mais que um jardim.
Dona de si, quis conhecer outros mares, outros solos, outros sonhos.
Sexo que nunca foi frágil, mesmo assim, muitas vezes, sofreu e chorou.
Mas seguiu.
Em seu caminho, nada foi fácil, mas Ela venceu.
Eva... em todos os tempos! Dela, somos todas herdeiras. Discípulas do vento, Livres, Inteligentes.
Essências de Eva!
E todas nós algum dia, vamos estar diante de uma maçã.
A maçã que nos apresenta a vida, e vida que se reverencia à nos!






quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um por cento


Nota da autora - ... com uma conversa, uma reflexão.

 "Era uma vez um homem. Possuía cem ovelhas.
Um dia uma delas lhe fugiu, e ele nunca mais foi feliz."

Cada um de nós, em nossas vidas, temos nossos valores, que podem ser família, amor, amizade, felicidade, espiritualidade, sucesso, saúde, paz, entre tantos outros. 
Divididos eles estão em prioridades, cada um ocupando seu espaço dentro da gente.
Os espaços que eles possuem formam a nossa totalidade, sendo preenchidos, fazem com que nos sintamos completos, realizados. 
Mas aí entra um tipo de maldição. Do barro em que fomos criados, alguma pedrinha diferente foi juntada, ou então tirada, quem sabe sem querer, ou por querer - um capricho à mais do Oleiro.
Por mais que tenhamos, estaremos sempre em busca de algo, e colocamos neste objeto de desejo - que pode ser qualquer coisa - toda nossa expectativa de nos sentirmos felizes.
Nos faremos surdos aos apelos de "Você tem tudo, porque vai atrás disso?" "Vai deixar tudo que tem por uma coisa assim?"
Temos que ir, temos que deixar, é o que move a nossa vida.
É o que faz a diferença entre estarmos vivos e nos sentirmos vivos. 
É o que nos faz ter a ilusão de preencher o espaço vazio que nunca será.
Pode parecer ruim essa eterna procura, mas olhando atentamente veremos que essa busca é também o que nos traz os grandes pensamentos, as grandes descobertas, as transformações... a evolução.
A nossa própria, individual.
Pode não valer muito para os outros, eles nunca entenderão. Porque isso é nosso. 
É a nossa busca, o nosso desejo, a nossa salvação. 
Teremos sempre o estigma da ovelha perdida. A ovelha que será sempre o nosso um por cento que falta.  
E quantas vezes abrimos mão desse um por cento. Quantos um por cento já se foram, por nossa falta de coragem, por nos deixarmos convencer de que não é tão importante, de que podemos viver sem. 
"Mas é apenas um por cento."
 Não importa, 99 não é 100.