quarta-feira, 25 de junho de 2014

Palavras




Já noite.
Tenho me sentido deprimida, triste, sozinha.
Mas tenho uma teoria que pode explicar meus sentimentos.
As palavras, minhas cúmplices, têem me deixado de lado, me colocando num exílio da escrita.
Estou em um deserto, sem ninguém para me oferecer uma gota de água.
Nada me vem, nada... vazio!
Solidão!
Me dou ao luxo de deixar que uma lágrima escorra, quem sabe ela seja a água que ando precisando.
Para lavar a alma.
Para me trazer um pouco de paz.  
Mas ela só molha o meu rosto, não me oferece nada de novo, não me acrescenta.
Talvez tenha sido apenas um sonho bom.
Outro dia, li um pensamento interessante, que me colocou no inferno.
Um escritor só é escritor enquanto escreve, o escritor só existe, enquanto as palavras saem de sua mente e passam para o papel, depois disso ele está morto. Dá lugar ao autor.
Eu não quero ser um autor de uma única obra. Eu quero continuar abraçando e amando as palavras que tanto me oferecem libertação.
Eu quero continuar a beijá-las, quero que continuem a me beijar. Quero se que debrucem sobre mim, e me falem ao ouvido, quero que me amem, que me desejem, que façam amor comigo.
Preciso. Necessito.
Porque esse abandono?
Não entendo.
Será que nada mais posso oferecer?
Será que acabou o mistério? A paixão?
A vontade, o desejo?
O que faço eu agora? Estou sem norte.
Perdida!
Quando vocês vão voltar? Quando?
Preciso do nosso caso. Não consigo mais voar.
Não vêem? Estou sangrando!
Não posso mais viver sem a graça de possuí-las. 
Chega desse exílio! Esse parto que não se finda!
Quando voltarão a brilhar em minha vida, trazendo novamente a luz para os meus dias?
Mas voltem, se realmente me amarem.
Não me ofereçam apenas as migalhas do que já fomos um dia.
Mas, se podem viver sem mim, vivam então. Em mentes mais brilhantes que a minha. Em almas mais sensíveis que a minha.
Não deixarei de amá-las. Apenas aceitarei amá-las em outros pensamentos que não sejam os meus.








 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Entre vida e morte


Foto - Rafael Franceschini

Há um tempo atrás li um livro de Lya Luft "As Parceiras" - muito bom, eu o recomendo.
Quando se lê algo novo, aquilo começa a fazer parte de nós, somos um pouco de tudo que vemos, lemos, ouvimos, participamos. Mesmo que inconscientes disso.
Um escritor precisa ler - não que eu seja, mas confesso, sou uma aspirante - por isso como ouvi uma vez, um professor em uma faculdade dizendo para a turma que, para se criar, se faz necessário pesquisa e repertório, também um escritor precisa.
Então assim, nasceu esse texto, ele deve ter sido fecundado em mim pela leitura do livro de Lya. Nem chega a ser um texto, é apenas um "ensaio" - ando gostando dessa palavra - um ensaio do que seria a morte e a vida...  

"Sei que um dia morrerei"
Este pensamento veio à mim, e eu não quis como de tantas outras vezes descartá-lo de meu pensamento, como se com isso pudesse aplacar o destino certeiro.
Não, hoje quero mastigar essa verdade.
Um dia não estarei mais aqui. Minha viagem terminará e eu voltarei para o meu lugar.
Estou vendo, a minha visão se aclara quando deixo as palavras me cercarem.
Pois se a vida é uma viagem, eu não pertenço a esse lugar.
Verdade que às vezes sinto saudades, de não sei o quê, mas sinto.
Venham queridas, venham me ajudar a perceber de onde sou.
Perceber que esse corpo um dia perecerá, e desta morte se elevará algo mais puro, mais íntegro, mais absoluto e verdadeiro.
Sinto, às vezes sinto, uma vontade de romper essa barreira, desejo então o meu medo?
Mas eu morro todos os dias. Todos os instantes. E vivo a cada dia, em todos os instantes.
Morrer é uma grande ilusão. Uma mentira cultuada. Ela não existe.
Assim como a vida.
Elas brincam, são parceiras. 
Vida e morte, e nós em meio à elas. 
Mas eu não pertenço a nenhuma delas. 
Sou um ser livre, engaiolado pela vida, e libertado pela morte, mas ainda assim, independente delas. 
Eu existo, e nem a vida e nem a morte tem qualquer poder sobre a minha existência. 
Já existia antes, continuarei a existir depois, e sinto saudades dessa existência perfeita a que eu - posso dizer agora - pertencia.
Não me perguntem como, e nem porque, mas penso que Fernando Pessoa coloca um pouco do que agora me revelaram as palavras:

"Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluído de intenções, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar - agora desconhecendo-se
Sempre separando-se de mim, indefinidamente."