segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Atrás das cortinas!

Um palco.
Quente, em suas madeiras. Vivo, sangue e veias.
Nele, desfilam vidas em pequenas histórias inventadas, sob luzes e escuridão.
Personagens.
Construção: trabalho e suor, alegrias e choros.
E o espetáculo se enche de calor, e é perfeito, real, todos acreditam nele.
"Que original!"
"Que verdadeiro!"
"Único!"
É mágico.
Mas na cartola, um truque.
Na magia, um ilusão.
No teatro, a máscara.
O embuste, as cortinas.
Pesadas, escuras.
Faz parte do show que sejam assim.
Escorre a tinta vermelha na tela que se protege sob a pele do ator.
Não existe maquiagem, figurino, interpretação.
Ali é a alma, nua e crua.
Às vezes nem tão bela, as vezes difícil de engolir.
Ali é onde a essência se manifesta. Onde o humano toca o céu e o inferno.
O espelho se reflete nitidamente, não há névoas, não há fuga, porque não há para onde fugir.
Só a dor da realidade, daquilo que é.
A criatura vira bicho ou num lampejo de grito, renuncia suas correntes e se cria.
Esquece o barro de que era feita, se reinventa, se modela.
Se reeduca, se ama.
Sofre, perdoa, esquece.
Vence! Perde!
O espetáculo se dá na coxia, nos bastidores de nós, onde não há luzes, nem olhares, nem aplausos.
Estamos sós, lutamos sós, vencemos ou perdemos sós, sem reconhecimento ou crítica de ninguém, somos atores, personagens, público.
Vida única atrás das cortinas!
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário