quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Attraversiamo!

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
é o tempo da travessia: e se não ousarmos,
teremos ficado, para sempre
à margem de nós mesmos!"
 
Fernando Pessoa
 
Attraversiamo - quer dizer: Vamos atravessar!
Li isto no livro Comer, Rezar, Amar de Elizabeth Gilbert. 
 Adorei a palavra - Attraversiamo! Cheia de melodia! A língua italiana é mesmo repleta de sons que dançam aos meus ouvidos. Pode um som dançar aos ouvidos?
Aos meus, sim!
Attraversiamo! Attraversiamo! 
É como um grito que ecoa dentro, não se retém, não aceita ser sufocado, porque ele existe, e se existe ele precisa provar da existência, precisa sair e se tornar algo concreto, com ossos e carne, apesar de permanecer no campo da alma.
Vamos atravessar!
É um convite.
Cheio de promessas!
Mas é também um desafio, sabe lá o que nos espera...
É deixarmos a nossa zona de conforto, de comodidade, e nos aventurar!
É viver no mais amplo o sentimento da fé!
Não se engane, é para os corajosos...
Mas já ouvi dizer que coragem se prova ao se ter medo!
Medo e Coragem andam juntos, são irmãos!
Vamos atravessar!
Vamos deixar que o nosso instinto mais nobre, nos leve por um caminho que ainda não conhecemos, vamos apreciar as pedras deste caminho, elas com certeza estarão lá...
Assim como as flores!
Vamos aceitar que a vida é correr riscos, mergulhar fundo nestas águas profundas. Conhecer o que está escondido a quem não se atreve, a quem não se provoca, a quem não se questiona!
 Não nos condenemos à uma vida superficial, onde tudo é mais ou menos, onde tudo é morno! Vamos beber da fonte e nos embriagar do vinho!
Vamos nos encarar e aceitar que somos limitados, mas isto não é desculpa para ficarmos aonde estamos à tanto tempo, mudemos isto em nós.
Façamos das limitações a nossa força!
A vida é uma eterna mudança.
O dia nos abraça!
O céu é o mesmo, porém os olhos que o vêem podem ser diferentes.
E então?
Attraversiamo!
 
 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Fênix


“Deus diz:

Quem me procura, encontra.

Quem me encontra, conhece.

Quem me conhece, ama.
...

Quem me ama, é amado por mim.

Quem é amado por mim, é destruído.”

Kazantzakis de Sidna Ali
 
 
Nascemos!
Porque a vida nos chamou à existência.
Crianças, a gente não se perde pensando em razões para explicar o porquê de se existir, apenas somos.
Somos brincadeiras, somos curiosidade, somos amizade, somos vida sem preocupações, afinal a comida vem na hora certa, quando estamos doentes o remédio vem na hora certa, para o nosso choro há o consolo, cuidam para que a gente não se machuque, nos cercam de amor e carinho, não nos falta nada, tudo nos provêm, bom, pelo menos na maioria dos casos, é claro que há excessões, mas isto deixo para outro texto, em uma outra oportunidade.
Pensando assim, que lindo mundo é a infância!
Para as crianças existem os pais, e os pais ensinam que além deles existe um outro Pai, e que este Pai mora no céu e também dentro da gente,e a gente aprende que este Pai também cuida da gente, porque nos ama mais do que tudo. E a Ele somos apresentados.
Não com um aperto de mão, nem um abraço, muito menos um beijo... apenas algumas ideias, nos ensinam que um dia Ele veio ao mundo e deu a vida por nós, e ensinou que a maior riqueza do ser humano é o amor. 
Até que é fácil entender isto, porque até este momento só conhecemos o amor mesmo, e acho que nem importa muito que a gente nunca O veja, a vida desponta à nossa frente, nos convida, nos enlaça, nos mostra tantos caminhos, e a gente sabe que Deus nos ama, e ponto final.
Mas aí acontece que a gente cresce e a vida nos apresenta ao mundo, e neste momento a gente faz uma bagunça danada... são muitas possibilidades, são muitas pessoas, são muitos caminhos, milhões de pensamentos, trilhões de sentimentos e a gente nem lembra que pais existem, este que fica no céu então, Pobrezinho, fica abandonado.
E a gente O esquece.
Mas Ele não esquece a gente. Fica lá só observando, cuidando, protegendo, e porquê não se perguntando: Até quando? 
Até quando vai Me deixar de fora? Até quando vai colocar sua armadura para as lutas da vida e esquecer o Escudo e a Lança? Até quando vai fazer de conta que Eu não estou aqui, e que não precisa de Mim?
E então, depois de muitos caminhos, vencidos pelo cansaço, a gente se lembra das noites da nossa infância, aquelas que durante muitos anos nos encontravam depois das brincadeiras, em camas quentinhas de aconchego e calor. E nos lembramos que já fomos felizes sem ter quase nada, eu disse quase nada? Engano. Tínhamos tudo! Esperança, Sonhos, Fé!
Mesmo que a gente não entendesse o real significado destas palavras, tínhamos o que mais importava, um coração que sabia viver a Fé mesmo sem entendê-la.
Porque quando a gente cresce a gente desaprende a fé?
É um mistério que tento entender...    
E então nos lembramos que Ele de alguma forma já fez parte de nós, ainda faz, será?
Começamos a procurá-Lo, mas estamos tão maculados pelo mundo, tão viciados em uma vida que apesar de difícil é tão cheia de prazeres que a nossa procura se torna mais complicada ainda.
É como um ópio  que nos entorpece, que nos tira o foco, e já não enxergamos com clareza. 
Mesmo assim, a procura é legítima e a gente O encontra.
E naõ é um encontro fácil, Ele nos aponta nossas fraquezas, nossas limitações, nossos vícios e os prazeres que nos seduziram. Há dor e há sofrimento, mas também há libertação.
Há também perdão... Ele nos perdoa pelas vezes que nós mesmos não nos perdoamos, pelas vezes que não nos amamos e sendo assim esquecemos que a maior riqueza do ser humano é o amor. 
E assim Ele nos consome, nos transforma em cinzas que são levadas pelo vento, e a gente renasce como uma fênix, que não acaba aqui.
É um processo que vivemos em vários momentos, todos os dias.
Há qualquer instante somos presos em armadilhas, feito pequenos passarinhos, mas Ele vem e nos liberta, e nos faz novamente livres, porque assim é O Seu Amor!