quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Estradas


Este texto começou algumas vezes e  permiti que ele morresse antes do segundo parágrafo.
Isto porque gostaria de escrever macio como alguns, mas por mais que queira, as palavras não vem à mim como eu desejo. Nem mesmo os pensamentos.
São aves soltas que cruzam os céus das ideias, com obstinada vontade de irem contra ao que eu acho correto.
Não é a primeira e tenho certeza não será a última que me sento diante das teclas, e elas ganham vida própria, independentes de mim.
Talvez seja assim que elas queiram, é bom mesmo que eu não tenha poder algum sobre elas, se nada neste mundo é autêntico, que seja o mais liberto de nós.
Então, eu coloco uma música inspiradora, e deixo que elas digam o que querem dizer, ou o que eu preciso saber.
Porque por mais que a gente se sinta dono de si, não somos.
Há uma força estranha que nos guia. Damos nome a essa força, e eu deixo para você que agora me lê, que a nomeie como quiser.
Este força sempre esteve comigo me dizendo: " Por aqui não, vá por ali, é mais seguro."
E ela que nos leva à buscar o que clama a nossa essência.
E nós seguimos.
Essa busca que iniciamos à partir do dia em que nascemos e que nos acompanhará até o nosso último suspiro, penso eu, é a busca mais genuína que qualquer ser humano pode ter.
Não falo aqui de felicidade, mesmo porque, acho que o mais perto que chegaremos dela serão aqueles momentos em que nossos olhos saberão reconhecer os instantes que nos trarão alegrias.
Falo de nossa busca por esta força, que na verdade é a busca incansável por nós mesmos.
É a opção por desejar pelo menos tentar sentir a verdade do que somos.
Muitos são os caminhos, e muitas são as distrações.
Alguns raros conseguem, outros vivem tentando, seguindo o exemplo dos que já se foram.
Mas como as folhas que se desprendem de seus galhos com a força dos ventos, cada qual segue uma direção.
Em algum momento, em um "instante mágico" - como já dizia Paulo Coelho - isto nos é revelado.
Em meu coração, me perdoem os mais conservadores, sei que não encontrarei em concretos, minha alma é livre assim como as palavras que se jogam aqui. Tenho tendências à vôos - ainda que tímidos - e não em joelhos dobrados.
Muitos caminhos nos levam à Deus.
"Deus não, essa palavra nos quebra os ossos, antes Pai" -  também como dizia São Francisco.
E é assim que chamo essa força que me guia.
Acredito que para Ele, pouco importa o caminho que sigamos. Penso que o mais importante é sairmos do nosso lugar comum, o que importa na realidade é a caminhada. A dificuldade faz parte da beleza em se estar na estrada. O que realmente importa é o movimento.
Foi o movimento que iniciou o processo que hoje faz com que estejamos aqui, e é o mesmo movimento que nos levará ao fim.
Fim que é início.
Assim como foi o fim de um parágrafo que iniciou estas palavras que se revelaram à mim.



Enluarando...


Dizem que a lua tem influência sobre as marés,
creio ser verdade!
Se somos parte de um universo infindável, em que tudo que se respira é vida, então é verdadeiro dizer que somos feitos da mesma matéria que os rios, a terra, o mar.
Esse mar que inunda os nossos pensamentos, sentimentos e que nos torna irremediavelmente imensos.
Onde nada é raso, somente as ondas - que sedutoras - tocam as areias, mas apenas na intenção de fazer com que mergulhem em nossas águas.
Onde tudo é belo, leve, claro... 
  E onde também existem profundezas insondáveis...
Não há bússola que oriente.
Tentar encontrar é perder-se. E perder-se é o único caminho.
Então quando chega a noite, a lua - misteriosa lua - toca o mar com o seu brilho.
Como mãos que delicadamente percorrem a pele, procurando o arrepio doce que só os amantes conhecem, assim é o seu brilho.
Penetrando a escuridão do que se faz profundo, ela vai dissipando os medos. 
O que é íntimo emerge, trazendo tudo que está guardado e preso em antigos naufrágios.
Vem destruindo tudo que encontra em seu caminhos, porque não há como deter a força das águas.
Águas que inundam, águas que libertam!
O peito já não aguenta mais e explode num grito.
E então tudo se acalma. 
E a lua - calma e fria - continua ali, apenas a observar o reflexo dela mesma na imensidão daquele mar. 



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Esperança!


A semana tinha sido difícil.
As coisas não correram como planejado.
O desânimo se aproveitou do momento de fraqueza e como um hóspede - apesar de não ser bem vindo - se instalou com toda a liberdade. 
Se apoderou da sala de estar, dos quartos, ligou a televisão, invadiu a cozinha. 
O dono da casa não tinha forças para conversar com ele, para dizer-lhe que não o queria ali, e este foi lhe roubando a vontade e a disposição.
Fechou as janelas - impediu o vento de trazer nova brisa.
 Fechou as cortinas - impediu o sol de trazer novo brilho e aquecer o que estava frio.
Se apoderou da liberdade, do ir e vir, e tranquilamente se colocou como um amigo, dizendo-lhe para não se preocupar, que a vida era assim mesmo, que as coisas acontecem e não há nada que se possa fazer para impedi-las. 
Lhe emprestou o seu ombro para que o outro chorasse lágrimas que nunca secariam. 
Lhe deu de comer o que nunca satisfaria a fome. Água que nunca saciaria a sede.  
Como um vício ele foi se tornando dependente daquela companhia e foi acreditando naquelas doce palavras de sedução, em que a única intenção era puxá-lo para mais e mais baixo.
Então, quando tudo parecia estar perdido, em um momento de distração do cruel amigo, em um momento em que a gente não explica, um pequeno anjo quis bater-lhe à porta.  
E ele foi abrindo devagar, muito devagar, porque já não estava mais acostumado a claridade do dia. Seus olhos já não podiam com a luz e pouco a pouco ele foi se acostumando à ela. E enxergando a luz, ele viu diante dele uma criança que o convidava a sair. 
Tinha medo, muito medo em segui-la, mas os olhos dela... onde foi que ele já tinha visto aquele olhar?
 Há quanto tempo?
Ela lhe estendeu a mão, e ele viu pequenos dedinhos puros e sinceros.
Não teve como resistir a eles!
Então saiu, sentiu o vento, o calor do sol, a beleza do dia, o cheiro da vida que há tanto tempo ele havia deixado.
Pisou descalço sobre a grama verde, molhou os pés no riacho e encheu o peito daquela manhã!
A criança sorria para ele, e ele sorriu para ela.
Reconheceu naquele sorriso, o homem que havia sido e que ela o devolvia.
Quando retornou para sua casa já tarde, percebeu que o antigo amigo tinha ido embora, abriu as janelas, as cortinas e deixou que o brilho da noite continuasse iluminando o seu coração.
Acreditou em um novo dia. E neste novo dia uma nova manhã, e outras possibilidades, e outras coisas, e novas chances, e nova vida.
 E outras escolhas!
Fechou seus olhos e esperou que o sono viesse. E ele veio, carregado de novos sonhos!
Porque a criança que adormecera dentro dele, veio para lhe mostrar que apesar dele, ela continuava viva, construíra nele o seu balanço, e sonhava brincar em suas sombras.  

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Imenso!


Por ter sonhado tanto com algumas coisas acabei por me tornar parte delas
E compreendi que faço parte desta imensidão que me rodeia
Por ter desejado a sombra de um ipê, tornei-me o ipê e, agora, sinto o perfume das suas flores que amanhecem
Por ter querido me banhar nas águas de um rio que corre manso, tornei-me o rio e, agora, descubro seus caminhos tortuosos, mas tão certos do seu destino
Por ter desejado pisar nas areias, tornei-me as ondas que as beijam e, agora, sou a maravilha das marés
Por ter sonhado com as borboletas, tornei-me as asas e, agora, risco os céus
Por ter amado o sol, tornei-me o seu brilho e, agora, aqueço e dou vida a novas cores
Por ter querido tanto cada manhã, tornei-me o renascimento e, agora, descubro que nada é mais belo do que uma nova chance
Por ter sonhado com os pássaros, descobri que é belo demais a arte de voar e sonhar e viver
Por ter me apaixonado pela lua e as estrelas, tornei-me a própria lua e, agora, sei que sou feita de fases e me aceito assim
Por ter desejado tanto o vento, ele veio à mim e dançou comigo e, agora, sou a brisa mansa que chega e se vai, sem avisar
Sou o tempo que levei para descobrir tantas coisas
Sou a dúvida que me levou a buscar tudo isto
Sou a certeza de que nada é tão certo quanto a incerteza dos amanhãs
Sou a beleza no instante em que se inicia e a eternidade do que é efêmero
Sou a criação mais querida e mais amada no instante único que deu origem a esta que sou
E por me compreender assim, agora sei  que nada é definitivo, nem mesmo estas palavras que dão vida a estes pensamentos tão loucos e tão imensos, e por serem loucos e imensos, tão essenciais a mim.
Ainda que só por um instante, neste exato momento eu fui - eu sou - cada palavra.
Por ter querido tanto as palavras, elas vieram a mim e me tornaram a imensidão que agora se acaba...
Mas não definitivamente, porque sempre haverá outros pensamentos, enquanto houver vida que pulsa e que impulsiona para outras palavras!

Cantarei o que vivi, celebrarei o que venci!

"...Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar 

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar...

...Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…

Golpe a golpe, verso a verso."

Cantares - Antonio Machado


Uma das lições que a vida nos ensina é esta: aprender a andar.
Primeiro rastejamos pelo chão, depois aprendemos a engatinhar, e então ainda que parecendo robozinhos, buscando o equilíbrio, nos colocamos em pé e damos nossos primeiros passos.
Caímos muitas vezes, mas a criança que somos nos levanta, insiste conosco, não desiste, ela quer que vençamos, e a gente vence.
É engraçado pensar em como as crianças são seres bem mais corajosos que nós adultos, talvez por inocência, elas enfrentam muito melhor as quedas, ainda que se machuquem. Já observaram um bebê em seus primeiros passos?  Ele cai, e às vezes nem chora, já vi até alguns que riem do próprio tombo, é a sabedoria infantil sempre nos ensinando que rir de si mesmo às vezes pode ser um bom remédio. Talvez também, porque as crianças ainda tragam dentro delas aquele frescor da divindade, é pena que ao crescer a gente vá perdendo ou esquecendo como é sentir-se sábio. Apenas por ser, as crianças são porque são, genuínas e autênticas.
Acho que o mundo se encarrega muito bem do papel de apagar de nossa memória o quanto já fomos fortes, o quanto já fomos sábios e corajosos. 
Por vezes, desejamos tanto alguma coisa, mas o medo de avançarmos em direção ao que queremos nos freia e então nos martirizamos pensando no que poderia ter sido. Temos medo de enfrentar os possíveis tombos, mas eles são inevitáveis para pessoas que caminham. 
Aprendemos isto quando crianças, lembram-se?
Talvez seja tempo de abrirmos os arquivos de nossas memórias, e desengavetar alguns sonhos, projetos... eles não sairão de lá sozinhos, precisam de nossos braços e pernas e pés. Não há outra maneira, assim como quando crianças, apenas nós podemos dar os primeiros passos, houve até quem nos desse a mão, nos sustentasse, mas não há agora, nossos passos nascem da coragem em enfrentar o caminho. 
Caminho que ninguém trilhará por nós, podemos até seguir alguns exemplos, porque estradas que se abrem ficam para serem observadas, mas o desafio também está em abrirmos a nossa própria, porque ela é nossa, particular e única.
Ele será difícil, teremos momentos de desespero, de desamparo, em que pensaremos em desistir, em que olharemos para trás e nos perguntaremos quais as razões para tudo isso, serão nossas encruzilhadas, benditas ou malditas, em que anjos ou demônios nos abraçarão, nos incentivando a continuar, ou nos aconselhando à voltar atrás.
Dependerá de nós, do quanto ainda acreditamos que possa valer à pena continuar a sonhar. 
 E como diz o poeta "golpe a golpe" venceremos as pedras, "verso a verso" escreveremos nossa história!  
Cantarei o que vivi, celebrarei o que venci!







sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sonhos!


"Acredite na força dos seus sonhos. Deus é justo, e não colocaria em seu coração um desejo impossível de ser realizado."
Autor desconhecido

Ela calçou seu tênis e saiu para caminhar. Descobriu que para pensar nas coisas necessitava sair do seu mundo, e ver a paisagem à sua frente. Não que realmente prestasse muita atenção, com certeza se algum conhecido passasse por ela, certamente nem se daria conta. Isso muitas vezes a classificou como alguém orgulhosa, mas ela apenas sofria de distração.
Sempre foi assim, desde a pré escola. Enquanto todos prestavam atenção na aula, um passarinho a convidava olhar pela janela, ver as coisas claras da vida, perceber as mudanças, ver se o sol ainda duraria enquanto nuvens se formavam anunciando a chuva. Tentava achar o sentido das coisas, criava dentro de si um mundo solitário que a seduzia e ela nunca teve forças para resistir. Ele era bem mais interessante e mais bonito.
Isso a fez sofrer. Porque é claro que o mundo cobra de quem não presta atenção à ele. Ela nunca soube direito como fazer parte dele.
Talvez por isto, apesar de não se adaptar às regras, ela as seguia, porque assim as coisas tinham que ser.
Foi assim que a ensinaram, e foi assim que ela aprendeu a viver.
Mas o seu coração era como um animal enjaulado. Andando de um lado para o outro, sem nunca chegar a lugar algum.
Mas a culpa era dela, sempre foi. Quem mandou ficar sonhando, enquanto o mundo girava?
Enquanto todos caminhavam para o mesmo lugar, assistindo sempre aos mesmos programas, ouvindo sempre os mesmos discursos... quem mandou querer andar na contra mão? 
Só os loucos fazem isto. E ela não podia ser louca, isto não lhe taria paz, nem alegrias, nem conquistas.
Isto só lhe daria incertezas, medos e ela queria sentir-se segura.
E ela buscou estar segura. Arrumou um trabalho, casou, se realizou como mulher, e alcançou através da maternidade a plenitude do amor. Nada mais necessitava. Estava tudo certo. 
Então, a criança que um dia ela foi e que adormecia dentro dela, veio para dizer-lhe que havia se distraído enquanto ela brincava de ser igual a todos,  lembrá-la que a vida nunca se completa, e que necessitamos estar em movimento. Aquela que se distraia com a vida que acontecia, veio para lhe mostrar que ainda estava viva, e que dentro do coração ainda nasciam sonhos, e estes impacientes como recém nascidos lhe tirariam o sono muitas vezes durante a noite, procurando seus seios, necessitando de cuidados e força e fé.
Ignorá-los seria como dizer não à sua essência, seria como não atravessar a ponte que a conduzia ao que há de mais perfeito e que liga o homem à Deus. 
E foi em tudo isto que ela pensou enquanto se dirigia às arvores, às flores e aos cheiros daquela manhã. 
Quando chegou ao parque, o sol já brilhava e muitas pessoas já estavam correndo atrás dos seus desejos. 
Mas ela não desejava nada, apenas sentia que o mundo sempre exigiria uma posição do ser humano, mas isso não poderia impedir ninguém de ir um busca do seu tesouro pessoal, e pensando assim se sentiu em paz.