terça-feira, 11 de março de 2014

Exílio


                                                                            Foto - Rafael Franceschini

Nota da autora - Às vezes é necessário o profundo recolhimento, para que algo novo aconteça. É minha esperança!

Aquela manhã ele despertara com um novo entusiasmo.
Hoje sinto que conseguirei - ele pensou.
Sentou-se em frente a sua máquina de escrever, estalou os dedos e começou a apertar as pequenas teclas.
No início, as palavras vinham com facilidade, uma após outra como um rio fluindo caudaloso, formando e dando vida aos seus pensamentos que pouco a pouco iam sendo colocados no papel para o seu novo texto.
Ele sentia-se feliz, esse era o sentido da sua vida. Foi para isso que havia nascido. Para escrever!
Não tinha ilusões de ser grande, nem de mudar coisa alguma, o que importava era aquela ânsia em se descobrir através das palavras.
Mas ultimamente, essas mesmas palavras que ele tanto amava, estavam abandonando-o. Ele não entendia o motivo. E sofria.
Passava horas tentando colocar um pensamento, uma ideia, porém depois ler o que havia escrito, amassava o papel e o jogava fora. Seu cesto de tão cheio, despejava os papéis para fora. Ele os percebia e pensava "quanto tempo desperdiçado." 
Mas agora seria diferente, ele sentia isso. 
Elas estavam novamente deitando com ele em sua cama, e eram um único ser.
O êxtase tomava conta de seu corpo, ele suava, enquanto apaixonadamente beijava cada uma delas. 
Mas de repente, sem esperar, o calor se dissipou. Ele desesperadamente ainda tentou duas, três frases, mas não adiantava mais, sua amante novamente o havia deixado.
Ele olhou com tristeza para o papel à sua frente. Leu o que havia escrito, mas não fazia mais sentido algum manter aquele texto. Ele tinha morrido.
Levantou-se de sua cadeira, pegou seu cigarro e sentiu mais uma vez o peso do abandono.
O que ele precisava fazer conseguir finalizar uma história? Ou o que estava fazendo errado? 
Ele não sabia.
Talvez houvesse se esgotado. Talvez dele, nada mais as palavras poderiam extrair, para satisfazer o prazer que sentiam ao serem transformadas em entes que eram lidas por outros.
Um sentimento de perca foi tomando conta dele. O que faria agora?
Ficou olhando a fumaça que subia de seu cigarro que ele depositara sob o cinzeiro, sem nem tê-lo colocado na boca. 
Então, um pensamento lhe ocorreu:
"Aceitarei minha tristeza até o fim, mergulharei nesse vazio que minha alma insiste que eu viva, aceitarei o exílio que as palavras me condenaram, esgotarei todas as minhas frustrações, e se preciso for, permanecerei nessa solidão por quanto tempo for, viverei nessa escuridão até que seja merecedor de, novamente enxergar a luz."

     

2 comentários:

  1. "Aceitarei minha tristeza até o fim..." -, estamos numa fase parecida então. Às vezes precisamos ir até o fundo do poço, para assim conseguir sair dele depois... Ou seja, só vivendo a tristeza no mais profundo, seremos capazes de supera-lá (e quem sabe) encontrar de novo a felicidade.

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  2. Espero que possamos sair logo desse poço Rê, espero mesmo!
    Nascemos para voar, não pode existir outra possibilidade para nós, que não seja essa. Obrigada por comentar! Beijosss

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