segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Deus chupa mexerica!

Ele sentou-se no banco e olhou a paisagem à sua frente.
O Natal havia passado e o Ano Novo estava batendo à porta.
Estava preocupado, pois sabia que muitas coisas precisavam ser resolvidas. Tinha tentando à todo custo se livrar de algumas delas, mas não tinha conseguido. Sabia que novos problemas haveriam de vir, somando aos que já existiam e por conta disto não estava muito feliz.
Procurava se distrair assistindo o corre e corre de pessoas que, diante dele passavam. Tinha querido sair de casa, respirar outros ares, ouvir o som do parque que se misturava aos gritos felizes de crianças que se divertiam com seus pais naquela manhã.
O ano todo havia sido muito difícil, ele havia procurado dar o melhor de si, em seu trabalho, em seus projetos, tentado alternativas, mas as coisas pareciam não querer colaborar, e se não bastasse, ele tinha piorado a situação assumindo um compromisso que à princípio lhe pareceu certo, mas agora já não tinha tanta certeza.
Estava com medo do Novo Ano. Isto era certo.
Enquanto para muitos era uma ocasião de comemorações, de renovação, para ele o Ano vinha cheio de medos e incertezas. 
Foi então que uma garotinha passou em sua frente. Viu que ela se voltou olhando para o banco em que ele estava, deu meia volta e sentou-se ao seu lado. 
Ele ficou se perguntando: onde estará os pais dessa criança? Depois acontece alguma desgraça e vão ficar chorando. 
Olhando-a de soslaio viu que ela muito à vontade retirava de dentro de uma sacolinha uma mexerica, e enfiando o dedinho começou a arrancar a casca.
- Oi! - disse ela.
Ele respondeu apenas com um aceno de cabeça.
- Você quer um gomo de ME-XE-RI-CA? - ela perguntou soletrando cada sílaba.
- Não, obrigado!
Olhando por perto não viu ninguém que parecesse ser parente daquela menina, então intrigado, ele perguntou:
- Onde estão seus pais?
- Ah, devem estar por aí. Você deveria EX-PE-RI-MEN-TAR.  Vendo que ele não tinha entendido, ela continuou: 
- A ME-XE-RI-CA! Está docinha, uma delícia!
E sem que ele tivesse tempo de responder qualquer coisa, ela despencou à falar:
- Ela estava lá quietinha no pé, me convidando para apanhá-la. Fiquei olhando para ver como subiria na árvore, porque ela estava num galho muito alto, não que eu tenha medo, fique sabendo, sou muito CO-RA-JO-SA, sim senhor!
Enfiou três gomos na boca, de uma só vez, enquanto o suco foi caindo pelos cantinhos, ela continuou:
- Eu não tinha certeza, se valeria à pena meu esforço, sabe? Vai que a  ME-XE-RI-CA estivesse estragada, da onde eu estava não dava prá ver, e se estivesse azeda? Não ia valer à pena não é? Mas aí eu pensei: a gente não tem como ter certeza das coisas não é? Quero dizer, como vamos saber se uma coisa é boa ou ruim sem antes fazer um esforcinho? Foi então que eu decidi que deveria subir na árvore e apanhá-la. Não foi muito fácil, quase que eu caí, tinha uns espinhos e tal, mas não é que a danada está gostosa?  
E enfiou mais mexerica boca adentro.
Fiquei olhando para ela, primeiro com espanto, sem saber direito o que pensar, ela deve ter percebido minha cara, meu silêncio, então me olhou estendendo sua mãozinha toda melada com um gomo e disse:
- Vai, experimenta!
Eu aceitei, ela me sorriu e saiu correndo para brincar!
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Bolhas de Sabão


Quando eu era criança...
...uma das minhas brincadeiras preferidas era soltar bolhas de sabão.
Primeiro que era muito bom brincar com água e se molhar, depois colocar um pouquinho de sabão ou detergente, misturar e fazer a "mágica" de ver aquilo se transformar em uma bolha que ia subindo, subindo, sendo levada pelo vento à dançar, refletindo tantas cores e luzes, e em certo momento se romper fazendo com que pequeninos pingos se dissolvessem no espaço a que se dirigia o meu olhar.
Olhos surpresos, olhos curiosos e felizes..
O que me surpreendia é que, uma nunca era como a outra, nunca refletiam as mesmas cores, cada uma tinha sua beleza singular, e cada uma dançava em seu ritmo e se rompia sem eu esperar. A vida de cada uma tinha um certo tempo, mas nesse tempo elas tinham e transmitiam uma alegria, que faziam com que a criança que eu era, sempre desejasse retornar à brincadeira para vê-las dançando novamente.
Nunca me passou pela cabeça indagar se elas não se incomodavam com a brevidade do seu tempo, eram apenas aqueles instantes em que o meu sopro dava vida à elas para que pudessem voar.
Apenas alguns instantes para mostrar-me tanta beleza, tanta leveza, me ensinando que não importava o tempo , importava apenas o quanto foi lindo, e por serem lindos se fizeram importantes aqueles momentos que nunca se repetiam, e que até hoje estão gravados na minha caixinha de  memórias felizes.
Talvez aquele mistério que envolvia aquela criança que eu era, seja o que hoje me move a escrever estas linhas.
Talvez a nossa vida seja feita algumas vezes de pequenas bolhas de sabão. Saber reconhecê-las quem sabe, nos dê o impulso de querer viver com mais alegria, com mais intensidade, com mais esperança e principalmente com mais reconhecimento, mais generosidade, mais compreensão.
Rubem Alves diz que o que a memória ama se torna eterno.
As bolhas de sabão de minha infância, apesar de serem efêmeras, se fizeram eternas, porque eu as amei. Cada uma delas, em cada momento de cada uma delas!
Crianças serão sempre seres intuitivos, sensíveis e curiosos, coisas que nós adultos com o tempo vamos desaprendendo.
Talvez valha a pena fazer a experiência das bolhas de sabão. Tentar observar o que move o sopro nosso de cada dia, olhar com curiosidade o que nos acontece, não nos levar tão a sério, fazer de cada momento o mais rico, o mais sincero.
A vida é tão breve.
Vivemos tão preocupados com o amanhã que nos cegamos para as coisas simples que vivemos a cada dia.
Um pensamento budista nos ensina o exercício do "aqui e agora".
"Aqui e agora" estou em meu trabalho fazendo o que posso de melhor. "Aqui e agora" estou com meu filho e farei desse momento algumas horas de prazer. "Aqui e agora"estou diante do meu computador deixando com que a experiência das palavras me revelem o que a inspiração quiser me dizer.       
E não importa o tempo que dure, se foi belo, se foi importante, se dê alguma forma nos fez crescer, refletir, se nos ajudou, terá valido à pena.
Citando Rubem Alves - meu querido poeta dos jardins - ainda uma vez:  "Há momentos efêmeros que justificam toda uma vida".

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O ir e vir da vida!

foto - Rafael Franceschini


Tudo começa com a forma que olhamos algo.
Tudo começa, melhor dizendo, com a nossa mudança de olhar.
Porque na maioria das vezes aceitamos as coisas como elas são, sem dá-las a chance de nos mostrar algo maior, e essa definição que a gente dá a tudo que encontramos, nos limita a enxergar o que essas mesmas coisas poderiam vir a ser.
Sempre acreditei que a vida segue um curso, como um rio que tem em sua correnteza um único rumo que se finda no mar.
Pensar assim não é ruim, porque faz com que sigamos em frente... água parada vira limo.
Isso fez com que eu tomasse decisões em minha vida que cortaram de uma vez para sempre possibilidades de retorno para algumas situações. Foi um fechamento de portas ou de ciclos.
Mas olhando para essa imagem, eu fico me perguntando, e se a vida quiser da gente um retrocesso?
Aquela velha história de voltar alguns passos para avançar melhor.
Ou se ainda quiser nos oferecer uma oportunidade que ficou pelo caminho, que não enxergamos, que não percebemos, ou que não estávamos preparados para seguir.
Ou algo que ficou e não deveríamos ter deixado. Ou decisões que tomamos mas não ficaram bem resolvidas, e a vida nos dá a oportunidade de retomá-las para seguirmos em paz.
Seguimos guiados por nossos desejos, nossas intuições.. alguns sinais que nos orientam, mas a verdade é que seguimos movidos pela fé. Penso que a vida seja como um túnel escuro quando ela nos apresenta situações que nos tiram da nossa zona de conforto.   
Tentamos sempre em nossos caminhos sermos coerentes com nossas razões, nossos sentimentos.. mas sempre nos deparamos com encruzilhadas, e como vivemos de maneira imediatista, às vezes a melhor solução pode não ser a melhor decisão.
Portanto, mudando o olhar e percebendo que a vida pode ser uma estrada que vai e que volta, nos dando novas chances, o túnel passa a ser apenas um pedaço deste caminho que inevitavelmente temos que passar para alcançar a verdade do que queremos ou do que somos nós.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Estradas


Este texto começou algumas vezes e  permiti que ele morresse antes do segundo parágrafo.
Isto porque gostaria de escrever macio como alguns, mas por mais que queira, as palavras não vem à mim como eu desejo. Nem mesmo os pensamentos.
São aves soltas que cruzam os céus das ideias, com obstinada vontade de irem contra ao que eu acho correto.
Não é a primeira e tenho certeza não será a última que me sento diante das teclas, e elas ganham vida própria, independentes de mim.
Talvez seja assim que elas queiram, é bom mesmo que eu não tenha poder algum sobre elas, se nada neste mundo é autêntico, que seja o mais liberto de nós.
Então, eu coloco uma música inspiradora, e deixo que elas digam o que querem dizer, ou o que eu preciso saber.
Porque por mais que a gente se sinta dono de si, não somos.
Há uma força estranha que nos guia. Damos nome a essa força, e eu deixo para você que agora me lê, que a nomeie como quiser.
Este força sempre esteve comigo me dizendo: " Por aqui não, vá por ali, é mais seguro."
E ela que nos leva à buscar o que clama a nossa essência.
E nós seguimos.
Essa busca que iniciamos à partir do dia em que nascemos e que nos acompanhará até o nosso último suspiro, penso eu, é a busca mais genuína que qualquer ser humano pode ter.
Não falo aqui de felicidade, mesmo porque, acho que o mais perto que chegaremos dela serão aqueles momentos em que nossos olhos saberão reconhecer os instantes que nos trarão alegrias.
Falo de nossa busca por esta força, que na verdade é a busca incansável por nós mesmos.
É a opção por desejar pelo menos tentar sentir a verdade do que somos.
Muitos são os caminhos, e muitas são as distrações.
Alguns raros conseguem, outros vivem tentando, seguindo o exemplo dos que já se foram.
Mas como as folhas que se desprendem de seus galhos com a força dos ventos, cada qual segue uma direção.
Em algum momento, em um "instante mágico" - como já dizia Paulo Coelho - isto nos é revelado.
Em meu coração, me perdoem os mais conservadores, sei que não encontrarei em concretos, minha alma é livre assim como as palavras que se jogam aqui. Tenho tendências à vôos - ainda que tímidos - e não em joelhos dobrados.
Muitos caminhos nos levam à Deus.
"Deus não, essa palavra nos quebra os ossos, antes Pai" -  também como dizia São Francisco.
E é assim que chamo essa força que me guia.
Acredito que para Ele, pouco importa o caminho que sigamos. Penso que o mais importante é sairmos do nosso lugar comum, o que importa na realidade é a caminhada. A dificuldade faz parte da beleza em se estar na estrada. O que realmente importa é o movimento.
Foi o movimento que iniciou o processo que hoje faz com que estejamos aqui, e é o mesmo movimento que nos levará ao fim.
Fim que é início.
Assim como foi o fim de um parágrafo que iniciou estas palavras que se revelaram à mim.



Enluarando...


Dizem que a lua tem influência sobre as marés,
creio ser verdade!
Se somos parte de um universo infindável, em que tudo que se respira é vida, então é verdadeiro dizer que somos feitos da mesma matéria que os rios, a terra, o mar.
Esse mar que inunda os nossos pensamentos, sentimentos e que nos torna irremediavelmente imensos.
Onde nada é raso, somente as ondas - que sedutoras - tocam as areias, mas apenas na intenção de fazer com que mergulhem em nossas águas.
Onde tudo é belo, leve, claro... 
  E onde também existem profundezas insondáveis...
Não há bússola que oriente.
Tentar encontrar é perder-se. E perder-se é o único caminho.
Então quando chega a noite, a lua - misteriosa lua - toca o mar com o seu brilho.
Como mãos que delicadamente percorrem a pele, procurando o arrepio doce que só os amantes conhecem, assim é o seu brilho.
Penetrando a escuridão do que se faz profundo, ela vai dissipando os medos. 
O que é íntimo emerge, trazendo tudo que está guardado e preso em antigos naufrágios.
Vem destruindo tudo que encontra em seu caminhos, porque não há como deter a força das águas.
Águas que inundam, águas que libertam!
O peito já não aguenta mais e explode num grito.
E então tudo se acalma. 
E a lua - calma e fria - continua ali, apenas a observar o reflexo dela mesma na imensidão daquele mar. 



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Esperança!


A semana tinha sido difícil.
As coisas não correram como planejado.
O desânimo se aproveitou do momento de fraqueza e como um hóspede - apesar de não ser bem vindo - se instalou com toda a liberdade. 
Se apoderou da sala de estar, dos quartos, ligou a televisão, invadiu a cozinha. 
O dono da casa não tinha forças para conversar com ele, para dizer-lhe que não o queria ali, e este foi lhe roubando a vontade e a disposição.
Fechou as janelas - impediu o vento de trazer nova brisa.
 Fechou as cortinas - impediu o sol de trazer novo brilho e aquecer o que estava frio.
Se apoderou da liberdade, do ir e vir, e tranquilamente se colocou como um amigo, dizendo-lhe para não se preocupar, que a vida era assim mesmo, que as coisas acontecem e não há nada que se possa fazer para impedi-las. 
Lhe emprestou o seu ombro para que o outro chorasse lágrimas que nunca secariam. 
Lhe deu de comer o que nunca satisfaria a fome. Água que nunca saciaria a sede.  
Como um vício ele foi se tornando dependente daquela companhia e foi acreditando naquelas doce palavras de sedução, em que a única intenção era puxá-lo para mais e mais baixo.
Então, quando tudo parecia estar perdido, em um momento de distração do cruel amigo, em um momento em que a gente não explica, um pequeno anjo quis bater-lhe à porta.  
E ele foi abrindo devagar, muito devagar, porque já não estava mais acostumado a claridade do dia. Seus olhos já não podiam com a luz e pouco a pouco ele foi se acostumando à ela. E enxergando a luz, ele viu diante dele uma criança que o convidava a sair. 
Tinha medo, muito medo em segui-la, mas os olhos dela... onde foi que ele já tinha visto aquele olhar?
 Há quanto tempo?
Ela lhe estendeu a mão, e ele viu pequenos dedinhos puros e sinceros.
Não teve como resistir a eles!
Então saiu, sentiu o vento, o calor do sol, a beleza do dia, o cheiro da vida que há tanto tempo ele havia deixado.
Pisou descalço sobre a grama verde, molhou os pés no riacho e encheu o peito daquela manhã!
A criança sorria para ele, e ele sorriu para ela.
Reconheceu naquele sorriso, o homem que havia sido e que ela o devolvia.
Quando retornou para sua casa já tarde, percebeu que o antigo amigo tinha ido embora, abriu as janelas, as cortinas e deixou que o brilho da noite continuasse iluminando o seu coração.
Acreditou em um novo dia. E neste novo dia uma nova manhã, e outras possibilidades, e outras coisas, e novas chances, e nova vida.
 E outras escolhas!
Fechou seus olhos e esperou que o sono viesse. E ele veio, carregado de novos sonhos!
Porque a criança que adormecera dentro dele, veio para lhe mostrar que apesar dele, ela continuava viva, construíra nele o seu balanço, e sonhava brincar em suas sombras.  

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Imenso!


Por ter sonhado tanto com algumas coisas acabei por me tornar parte delas
E compreendi que faço parte desta imensidão que me rodeia
Por ter desejado a sombra de um ipê, tornei-me o ipê e, agora, sinto o perfume das suas flores que amanhecem
Por ter querido me banhar nas águas de um rio que corre manso, tornei-me o rio e, agora, descubro seus caminhos tortuosos, mas tão certos do seu destino
Por ter desejado pisar nas areias, tornei-me as ondas que as beijam e, agora, sou a maravilha das marés
Por ter sonhado com as borboletas, tornei-me as asas e, agora, risco os céus
Por ter amado o sol, tornei-me o seu brilho e, agora, aqueço e dou vida a novas cores
Por ter querido tanto cada manhã, tornei-me o renascimento e, agora, descubro que nada é mais belo do que uma nova chance
Por ter sonhado com os pássaros, descobri que é belo demais a arte de voar e sonhar e viver
Por ter me apaixonado pela lua e as estrelas, tornei-me a própria lua e, agora, sei que sou feita de fases e me aceito assim
Por ter desejado tanto o vento, ele veio à mim e dançou comigo e, agora, sou a brisa mansa que chega e se vai, sem avisar
Sou o tempo que levei para descobrir tantas coisas
Sou a dúvida que me levou a buscar tudo isto
Sou a certeza de que nada é tão certo quanto a incerteza dos amanhãs
Sou a beleza no instante em que se inicia e a eternidade do que é efêmero
Sou a criação mais querida e mais amada no instante único que deu origem a esta que sou
E por me compreender assim, agora sei  que nada é definitivo, nem mesmo estas palavras que dão vida a estes pensamentos tão loucos e tão imensos, e por serem loucos e imensos, tão essenciais a mim.
Ainda que só por um instante, neste exato momento eu fui - eu sou - cada palavra.
Por ter querido tanto as palavras, elas vieram a mim e me tornaram a imensidão que agora se acaba...
Mas não definitivamente, porque sempre haverá outros pensamentos, enquanto houver vida que pulsa e que impulsiona para outras palavras!

Cantarei o que vivi, celebrarei o que venci!

"...Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar 

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar...

...Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…

Golpe a golpe, verso a verso."

Cantares - Antonio Machado


Uma das lições que a vida nos ensina é esta: aprender a andar.
Primeiro rastejamos pelo chão, depois aprendemos a engatinhar, e então ainda que parecendo robozinhos, buscando o equilíbrio, nos colocamos em pé e damos nossos primeiros passos.
Caímos muitas vezes, mas a criança que somos nos levanta, insiste conosco, não desiste, ela quer que vençamos, e a gente vence.
É engraçado pensar em como as crianças são seres bem mais corajosos que nós adultos, talvez por inocência, elas enfrentam muito melhor as quedas, ainda que se machuquem. Já observaram um bebê em seus primeiros passos?  Ele cai, e às vezes nem chora, já vi até alguns que riem do próprio tombo, é a sabedoria infantil sempre nos ensinando que rir de si mesmo às vezes pode ser um bom remédio. Talvez também, porque as crianças ainda tragam dentro delas aquele frescor da divindade, é pena que ao crescer a gente vá perdendo ou esquecendo como é sentir-se sábio. Apenas por ser, as crianças são porque são, genuínas e autênticas.
Acho que o mundo se encarrega muito bem do papel de apagar de nossa memória o quanto já fomos fortes, o quanto já fomos sábios e corajosos. 
Por vezes, desejamos tanto alguma coisa, mas o medo de avançarmos em direção ao que queremos nos freia e então nos martirizamos pensando no que poderia ter sido. Temos medo de enfrentar os possíveis tombos, mas eles são inevitáveis para pessoas que caminham. 
Aprendemos isto quando crianças, lembram-se?
Talvez seja tempo de abrirmos os arquivos de nossas memórias, e desengavetar alguns sonhos, projetos... eles não sairão de lá sozinhos, precisam de nossos braços e pernas e pés. Não há outra maneira, assim como quando crianças, apenas nós podemos dar os primeiros passos, houve até quem nos desse a mão, nos sustentasse, mas não há agora, nossos passos nascem da coragem em enfrentar o caminho. 
Caminho que ninguém trilhará por nós, podemos até seguir alguns exemplos, porque estradas que se abrem ficam para serem observadas, mas o desafio também está em abrirmos a nossa própria, porque ela é nossa, particular e única.
Ele será difícil, teremos momentos de desespero, de desamparo, em que pensaremos em desistir, em que olharemos para trás e nos perguntaremos quais as razões para tudo isso, serão nossas encruzilhadas, benditas ou malditas, em que anjos ou demônios nos abraçarão, nos incentivando a continuar, ou nos aconselhando à voltar atrás.
Dependerá de nós, do quanto ainda acreditamos que possa valer à pena continuar a sonhar. 
 E como diz o poeta "golpe a golpe" venceremos as pedras, "verso a verso" escreveremos nossa história!  
Cantarei o que vivi, celebrarei o que venci!







sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sonhos!


"Acredite na força dos seus sonhos. Deus é justo, e não colocaria em seu coração um desejo impossível de ser realizado."
Autor desconhecido

Ela calçou seu tênis e saiu para caminhar. Descobriu que para pensar nas coisas necessitava sair do seu mundo, e ver a paisagem à sua frente. Não que realmente prestasse muita atenção, com certeza se algum conhecido passasse por ela, certamente nem se daria conta. Isso muitas vezes a classificou como alguém orgulhosa, mas ela apenas sofria de distração.
Sempre foi assim, desde a pré escola. Enquanto todos prestavam atenção na aula, um passarinho a convidava olhar pela janela, ver as coisas claras da vida, perceber as mudanças, ver se o sol ainda duraria enquanto nuvens se formavam anunciando a chuva. Tentava achar o sentido das coisas, criava dentro de si um mundo solitário que a seduzia e ela nunca teve forças para resistir. Ele era bem mais interessante e mais bonito.
Isso a fez sofrer. Porque é claro que o mundo cobra de quem não presta atenção à ele. Ela nunca soube direito como fazer parte dele.
Talvez por isto, apesar de não se adaptar às regras, ela as seguia, porque assim as coisas tinham que ser.
Foi assim que a ensinaram, e foi assim que ela aprendeu a viver.
Mas o seu coração era como um animal enjaulado. Andando de um lado para o outro, sem nunca chegar a lugar algum.
Mas a culpa era dela, sempre foi. Quem mandou ficar sonhando, enquanto o mundo girava?
Enquanto todos caminhavam para o mesmo lugar, assistindo sempre aos mesmos programas, ouvindo sempre os mesmos discursos... quem mandou querer andar na contra mão? 
Só os loucos fazem isto. E ela não podia ser louca, isto não lhe taria paz, nem alegrias, nem conquistas.
Isto só lhe daria incertezas, medos e ela queria sentir-se segura.
E ela buscou estar segura. Arrumou um trabalho, casou, se realizou como mulher, e alcançou através da maternidade a plenitude do amor. Nada mais necessitava. Estava tudo certo. 
Então, a criança que um dia ela foi e que adormecia dentro dela, veio para dizer-lhe que havia se distraído enquanto ela brincava de ser igual a todos,  lembrá-la que a vida nunca se completa, e que necessitamos estar em movimento. Aquela que se distraia com a vida que acontecia, veio para lhe mostrar que ainda estava viva, e que dentro do coração ainda nasciam sonhos, e estes impacientes como recém nascidos lhe tirariam o sono muitas vezes durante a noite, procurando seus seios, necessitando de cuidados e força e fé.
Ignorá-los seria como dizer não à sua essência, seria como não atravessar a ponte que a conduzia ao que há de mais perfeito e que liga o homem à Deus. 
E foi em tudo isto que ela pensou enquanto se dirigia às arvores, às flores e aos cheiros daquela manhã. 
Quando chegou ao parque, o sol já brilhava e muitas pessoas já estavam correndo atrás dos seus desejos. 
Mas ela não desejava nada, apenas sentia que o mundo sempre exigiria uma posição do ser humano, mas isso não poderia impedir ninguém de ir um busca do seu tesouro pessoal, e pensando assim se sentiu em paz.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Pequenos Milagres!


Nota da autora - Às vezes a gente se sente tentada a abandonar sonhos, pedaços de realidades que poderiam virem a ser... então um anjo vem e pousa em nosso ombro!  

O vento continuava a mostrar sua presença através de pequenos raminhos que dançavam
próximos à mim.
 Não me lembro de alguma vez ter experimentado essa sensação de paz. 
À minha frente eu podia ver a cidadezinha lá embaixo perdida no meio daquela imensidão 
completamente verde.
Nunca senti de maneira tão profunda o barulho da natureza.
 De vez em quando andorinhas cruzavam o céu indo logo pousar pelos galhos de árvores nunca maculadas 
por mãos humanas, eu sentia o cheiro daquela terra, minhas mãos a tocaram e o contato com 
aquela terra virgem foi um misto de prazer e satisfação.
 Me veio uma vontade de deitar sobre ela, uma vontade de fazer parte dela.
 Fechei meus olhos e consegui ouvir  a vida que girava em torno de mim, os zumbidos de pequenos insetos, o vento passeando em meio às montanhas e o balançar de galhos e de repente para minha surpresa eu estava com lágrimas rolando por meu rosto.
 Sem entender o que se passava comigo, me deixei levar por um sentimento que
foi pouco a pouco me invadindo.
E a medida que eu deixava que lágrimas viessem, mais força elas pareciam ganhar.
Aquilo foi como arrancar de mim algo  que me aprisionava.
 Abri os olhos e docemente uma linda borboleta veio surgindo à minha frente.
Veio brigando com o vento, com suas delicadas asas foi se aproximando de mim.
 Foram apenas alguns segundos sobre o 
meu ombro, mas nunca me senti tão amada como naquele momento.


terça-feira, 30 de julho de 2013

Minha escrita - minha prece!

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.
                                                                                          ( João 1:1-3)

Já há algum tempo venho percebendo algumas coisas. Coisas que só mesmo o tempo nos mostra. A vida nos dá sinais, mas nem sempre estamos abertos a eles. Ao mesmo tempo há também fatores que nos limitam, nos impedem de percebermos algumas verdades, verdades estas essenciais para que sigamos a nossa jornada aqui nesta existência com mais alegrias, mais... paz.
Já há algum tempo percebi que a nossa natureza, aquela que está intrínseca à cada um de nós, pode nos dar certas respostas que teimamos em buscar fora. Venho percebendo que ela não se revela à mentes barulhentas, se faz necessário um silêncio profundo que não estamos acostumados a nos conceder.Este é um destes momento de silêncio...
Sempre busquei a Deus, e Ele sempre me procurou também. Acho que estivemos sempre nesta brincadeira constante de esconde-esconde. O percebi muitas vezes em meus caminhos tortos, não será surpresa para ninguém que nestes momentos de erros foi que O encontrei, mas saia correndo Dele para "ganhar" a brincadeira. Ele sempre foi para mim Aquele que poderia me salvar das enrascadas em que me metia. É engraçado como a gente O procura nestes momentos "especiais".
Mas há algum tempo, O reconheci como alguém que está disposto sim, a brincar comigo, porém além disto, Aquele que sonhou e criou o Universo, em sua sensibilidade criou as flores, a delicadeza das borboletas - O Poeta Jardineiro - o nascer e morrer do sol com cores que os olhos humanos se surpreendem - O Grande Artista!
Ah sim, irão me dizer alguns, nossa como você chegou a essa conclusão? Afinal, isto não é mistério para ninguém, está descrito no Livro Sagrado, todos sabem disto.
Sim, eu direi, sabem. Mas reconhecem isto? Percebem a beleza e a profundidade disto? Podem ver o que isto influencia em nossas vidas?
Vive em nós fragmentos das pinceladas de Sua mão. Somos parte deste quadro que Ele tão perfeitamente desenhou, e mais do que isto, temos em nós a chama sagrada desta criação.
Temos em nós as respostas que tanto procuramos, e somos nós a própria ponte que nos leva até Ele.
Cada um busca em seu caminho, caminhos que nos levem à felicidade.
Mas a felicidade são momentos de alegria. Momentos... instantes. Descobrir a felicidade nestes momentos é vislumbrar por instantes o rosto do Grande Artista.
As vezes perceber isto pode demorar uma vida inteira. Uma vida inteira de buscas.
Descobri isto em silêncio, aqui sozinha, diante destas teclas... O Criador se revelando à criatura.

Escrevo, porque escrever me revela, e revelando-me à mim, vislumbro por instantes a arte sagrada que me aproxima de Ti.
E eu posso gritar "Te achei", quando Te descobri em mim!





http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=J6F5qVydpWA




sexta-feira, 21 de junho de 2013

O meu lugar é no lugar do outro

De observar a vida a gente aprende muitas coisas, e entre tantas coisas esta: o meu lugar é no lugar do outro.
O outro não deveria ser o outro, mas nós mesmos.
Talvez não houvesse assim tantas injustiças, tantas feridas, ressentimentos..
Se enxergássemos o outro em nós, faríamos valer de uma frase tão antiga e sábia "não faça aos outros o que não queres que façam a ti."
Que mundo maravilhoso seria, não?
Porque se eu não quero passar fome, e entendam a palavra fome como descrita em qualquer dicionário - falta do necessário.
O que necessitamos para viver?
Não só de pão amigos, mas de toda palavra que sai da boca do homem. Aquelas que reúnem, que somam, que agregam. E se não existe este tipo de palavra, então que haja o silêncio, o bendito silêncio que também acolhe, que também transforma sentimentos. Silêncios e palavras - alimentos.
Falo de alimentos para a alma - compreensão, carinho, amizade, amor, lealdade, entre tantos outros que poderia citar aqui, se eu não quero este tipo de fome, também não quero para o outro, que faz parte do mesmo mundo em que eu vivo.
Se eu não quero que me machuquem, também eu não devo machucar ninguém.
Se eu não quero que falem de mim, também eu não devo falar de ninguém.
Se quero que me valorizem, também eu devo valorizar.
Se quero me que me amem, também eu devo amar.
Tão simples... mas tão difícil de viver assim.
Porque somos humanos, passíveis de erro?
Esta fala está ficando muito cansativa, até mesmo para mim, que já utilizei tantas vezes em outros textos.
Errar é uma coisa que é própria da humanidade, mas não devemos nos esconder atrás desta humanidade para errar.
Solto um suspiro, porque sei que tudo isto é tão utópico.
Reconheço que meu coração tem muitas utopias, um dia ainda alcanço uma ou duas delas.
Um dia...
Mas se isso não acontecer, mesmo assim, eu as alimento aqui dentro, é o meu pedaço de mundo perfeito, minha porção de paraíso.

    

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Colcha de Retalhos

E de que é feita a vida?
De pequenos retalhos.
Pega-se a agulha e se vai tecendo.
Escolhendo.
Liso, Colorido, Estampado, Florido.
Cada retalho, uma pequena história.
Triste? Feliz? Grande ou pequena... 
Depende da trama, mas com certeza, cortada, encerrada!
Emendando uma à outra porque o fio não espera.
Tem pressa.
Em mãos engenhosas os retalhos vão se unindo.
 Dando a forma, o desenho, o estilo. 
E assim se vai compondo a colcha, cada colcha uma vida.
Mas a vida é um pequeno todo, porque o todo realmente nunca se finda.
Vai se fazendo pouco a pouco no costurar do Grande Artista.





sexta-feira, 26 de abril de 2013

O grito!

"Ama ao teu inimigo, porque se amar só ao teu amigo, que recompensa terá?"
(Jesus Cristo)

Postei essa frase hoje, e logo em seguida ouvi a notícia de mais um caso de violência, uma dentista queimada em seu consultório porque em sua conta bancária só tinham trinta reais.
Meu Deus, é tão fácil colocar frases de sabedoria em nossa vida, porém quando a gente mergulha em nossos sentimentos frente à um caso assim, sinceramente a vontade que dá é colocá-los todos contra a parede e matar todos eles.
Me surpreendo com este tipo de fala em mim, porque também sinceramente, eu sou uma pessoa que defende a vida, em sua plenitude, mas como desejar a vida para pessoas tão sem coração?
Essa droga de país, onde só existe lei para os mais fracos, onde tudo é permitido, onde a educação é vazia, onde os professores são acuados por crianças, onde jovens não podem ser punidos, onde não existe amor entre as famílias, onde só existe um jogo e vence quem é mais esperto, quem só pensa em si mesmo, quem passa por cima de tudo e de todos.
Talvez meu coração esteja se endurecendo sabe, é triste, é cruel até para com a minha pessoa, seria bem mais fácil pensar que a vida é assim mesmo, e encarar este tipo de fato como um acontecimento cotidiano, mas não é, não é...
Realmente é muito fácil postar em uma rede social "ama o teu inimigo", eu não amo meu inimigo, eu não amo aquele que me ameaça, aquele que ameaça as minhas crias, aquele que ameaça a vida!
Me perdoa meu Deus, mas eu não amo!
Desculpa gente, isso foi um desabafo de alguém que se sente de mãos atadas. Perdida!
Porque na verdade eu acredito na beleza das pessoas e do mundo.
Me lembrei agora de um filme "As aventuras de Pi", puxa vida, soltei o meu Richard Parker!
O mal desperta o mal, e o mal é lindo como o Tigre do filme "Richard Parker", se fosse feio a gente fugiria dele. Ele é lindo, mas nos destrói se o deixarmos tomar conta.
Por isto ainda creio que a nossa arma deve ser outra, nosso Tigre é necessário para não aceitarmos as coisas como elas são, para nos mostrar que precisamos tomar atitudes. 
E gente, se minha arma é escrever, então eu escrevo!
E lembrando também Clarice Lispector "Se há o direito ao grito, eu grito!"

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Arte de Viver!

A vida é um eterno renovar-se, um sábio reinventar-se... apenas uma coisa é certa.
Só temos o hoje.
Só tenho o hoje para ser feliz, para perdoar e esquecer, me curar e crescer.
E também para me entristecer, nem podendo demorar muito tempo neste sentimento. O tempo não me espera.
Não espera que eu resolva as mazelas da minha vida, ou melhor, as que eu inventei, e se é assim, se eu posso inventar, que seja para criar algo de bom que me transponha, para que eu possa viver bem.
Só tenho o hoje para enlouquecer, então que seja "a loucura", aquela que me tira de mim, e me faz acreditar no impossível.
Só tenho o hoje para sorrir e para fazer sorrir.
Hoje para engrandecer, para valorizar, se humanizar, partilhar, nem que sejam lágrimas.
As vezes a nossa dor pode quem sabe alcançar alguém, que também sente dor, e está sozinho, achando que só ele sofre.
Só hoje para admirar e até mesmo se assombrar com a beleza das pessoas e deste mundo.
E quando eu achar que a vida nada mais tem a me oferecer, que as pessoas não tem mais nada à me ensinar, que este mundo de meu Deus não pode mais me surpreender, eu dou um jeito de me reinventar e descobrir que o quê é maior, é essa minha vontade de viver! 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Lilás!

Ele pegou o pincel, molhou em lilás e ficou olhando a tela em sua frente, vazia!
O último cigarro ainda respirava sob o cinzeiro onde, por horas inteiras, tinham-se desenhado linhas tênues de fragmentados pensamentos.
Ele estava morto.
Precisava encontrar sentido novamente e, renascer.
Olhou o pincel... lilás! O que ela me traz?
Dor... solidão...
Não! Misturo o que sinto e contamino o que poderia ser vida.
Sim! Vida! Lilases...Azuis!
Sou um menino! Uma criança com seu brinquedo, sem saber o que fazer com ele.
Em minha frente a tela branca e virgem, intacta e pronta.
Como uma jovem que se prepara para o momento da entrega, e carrega dentro dela todos os desejos e sonhos, assim é a tela à minha frente, mas eu... eu não tenho nenhuma promessa, apenas o desejo de existir através dela e tomar a eternidade para mim.
Teria sido este o meu erro?
Respirar através dela o que nunca foi meu.
Lilás... como o vestido que ela usava num dia de sol.
E novamente te enveneno.
Mas é doce o gosto que tenho, ainda tão vivo dentro de mim.
Como eram os lábios daquela mulher que veio à mim num dia de sol em lilases!
Não era vazia - como esta tela - era plena, de uma verdade que nunca foi minha.
E eu como um menino, sem saber o que fazer a esvaziei... nenhuma promessa. Apenas o desejo de tomá-la para mim.
E ela me deu vida, e através dela fiz a minha eternidade em outras telas que agora não me pertencem mais.
Refletem a loucura de um artista.
Mas haverá alguém que possa compreender a alma possuída por uma paixão que embriaga a lucidez e a razão?
Assim era eu.
Embriagado de vida!
Mas hoje, hoje sou...ausência.
Lilás, e o primeiro traço de sentimento se faz na tela branca e ela recebe aquela promessa, como quem recebe o primeiro beijo que nunca deveria ter sido.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Poesia da Vida!

"De tudo que se escreve, aprecio somente o que alguém escreve com seu próprio sangue. Escreve com sangue; aprenderás que o sangue é espírito!"
Nietzsche
 
Como fazer poesia:
Olhe para a vida e para os acontecimentos do dia... olhe para o passado, viva com intensidade o presente e sonhe com um possível futuro!
Parece fácil?
Não tão simples assim...
Olhar para o passado é reconhecer os acertos e perdoar os erros, viver o presente com intensidade é não ter medo de se arriscar, e sonhar com o futuro é preciso  coragem!
E também é necessário um outro tipo... de olhar... um olhar a que não estamos acostumados.
Fomos treinados a olhar o que está por cima, na margem... não mergulhamos em nossos sentimentos, mesmo os de alegria, aquelas que nos tirariam o fôlego, não vamos fundo em nossas tristezas, para tentar esgotá-las, não nos entregamos à nós mesmos, aos nossos medos e receios, para tentar quem sabe enfrentá-los, enfim, é mais seguro vivermos à margem de nós mesmos, e ficamos assim sempre no superficial.
Somos superficiais e rasos.
Não?
Então estamos salvos, podemos poetizar sobre a vida!
Podemos nos encarar, e ver que assim como desejamos a felicidade, não podemos separá-la do sofrimento, eles andam juntos, fazem parte de qualquer um de nós, se treinarmos o nosso olhar veremos que pode existir beleza nas linhas de um sofrimento!
Podemos encarar que não somos apenas carne e ossos, corpos que se levantam todas as manhãs, zumbis escravos de nós mesmos... somos almas repletas de vida!
E sendo assim, podemos ver a beleza que surge ante aos olhos surpresos e atentos neste jardim imenso, onde por tantas vezes somos testados, onde por tantas vezes nos sentimos abandonados...
Almas assim, que reconhecem lições, e que fazem destas lições experiências para suas vidas e as vidas de tantas outras almas, onde carne e ossos só vêem tristezas, essas almas fazem poesias!
 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Não provoque!!

 
 
"Não me venha falar da malícia de toda mulher, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é." 
 
 
Dizem que a mulher foi a culpada por ser a primeira a morder a maçã.
Prefiro imaginar que ao fazer isto ela movimentou o mundo.
Girou a roda, tirou tudo do lugar!
Pobre Adão!
Mas o que seria dele sem a sua doce Eva, sem a sua linda mulher!
Jamais teria visto as belezas deste mundo, jamais teria experimentado o gosto das alegrias e das lagrimas, jamais teria crescido em sabedoria!
Continuaria brincando com seus bichinhos de pelúcia pelo jardim do Éden! 
Se ela é pecadora?
Ora, mas claro que é!
Se pagou o preço?
Sim, pagou muito caro e paga ainda, muitas vezes, até hoje!
Mas aprendeu a se libertar das próprias correntes que a faziam imaginar que nada lhes era direito.
Nem mesmo o prazer!
Descobriu o valor e a força que tem!
Pelos tempos dobrou homens poderosos, e a roda do mundo continuou à girar sob o impulso da vida que apenas ela consegue gerar.
Venceu as dores, os preconceitos!
Hoje em dia correm do trabalho para a faculdade, Lindas meninas!
Casam, tem filhos, e ainda continuam... trabalho, faculdade, Fortes Mulheres!
Apesar da força do coração, a fragilidade do corpo faz com que punhos covardes marquem o rosto, Corajosas Mulheres!
Mesmo assim, continuam a amar e a sonhar!
Não mais com principes encantados, a menina cresceu!
Hoje, quer o homem que caminhe pelo mesmo horizonte, que some valores, que a tire do lugar comum!
Porque, convenhamos, depois de tantas lutas e vitorias, lugar comum não existe para este ser chamado Mulher! 
 
  
 

quinta-feira, 7 de março de 2013

O Título é de vocês...

"Onde você ainda se reconhece, na foto passada ou no espelho de agora? Hoje é do jeito que achou que seria?"
 ( Oswaldo Montenegro II - A lista ) 
 
Nem em sonho!
Mas será que isto a esta altura do campeonato importa?
 
Dizem que se quisermos saber do futuro, devemos olhar o passado.
E o presente como fica? Não é nele que devemos concentrar a nossa energia?
É claro que concordo: muitos sofrimentos poderiam ser evitados, se a experiência não fosse uma regalia do tempo, mas... e as tantas alegrias vindas de tantas loucuras cometidas?
É claro também, que eu preferia a pele de ontem, mas os olhos...há, esses eu nunca mudaria. 
O olhar prefiro o de hoje.
Aquele que me mantém alerta para antigas armadilhas. Hoje não corro mais os mesmos riscos.
Me lanço a outros!
Não irrefletidos, ao contrário, pés no chão!
Às vezes sim, tenho saudades de mim, ou melhor, daquela moleca que já fui um dia, que subia em árvores, colhia abacates, mangas, e enquanto o suco escorria pela boca e mãos, ficava olhando o tempo pensando em nada.
É bom não pensar em nada, mente aberta, sem preocupações!
Hoje, apesar das preocupações, conservei a mente aberta e livre, livre o bastante para saber que mudanças de planos fazem parte da estrada da vida, presentes que o tempo me trouxe, ou me fez aprender.
Nas páginas do passado, alimentei sonhos que talvez não fossem os meus, e realizei desejos que por um tempo me fizeram feliz!
Cometi muitos erros, fui expulsa de campo, me reinventei.
Não, hoje não me reconheço nas fotos de ontem, olho para aquela menina, e sinto ternura por aquela inocência, por aquele sorriso meio contido de olhos amendoados... jabuticabas prontas para serem colhidas!
Se ela soubesse tudo que iria passar... será que teria desistido?
Hoje, olhando para este passado vejo uma coisa que se escondia por trás daquela aparência frágil de menina - Coragem!  
Talvez, essa tenha sido a palavra da minha vida, ou melhor dizendo, é a palavra da minha vida, que eu não conseguia reconhecer quando me embrenhava por caminhos que não sabia se deviam ser seguidos ou não.
Sim, isto eu vejo entre o ontem e o hoje e o amanhã...
Coragem!
 
 
 
 



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Amigo!

Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo.
 
Esta pequena frase traz tanta verdade que chega à doer.
Num mundo onde as redes sociais imperam soberanas, até onde se pode medir o quão de importância uma pessoa tem na vida de outra.
Eu mesma, às vezes me sinto tão sozinha, mesmo tendo um número grande de amigos em uma das mais famosas.
Até onde o que se diz, ou melhor o que se escreve, transmite o que realmente se sente.
Sem querer causar qualquer tipo de polêmica, ou mesmo desmerecer a importância que se faz a internet em nossos dias, eu ainda assim me pergunto:
Será que ao invés de aproximar as pessoas, estamos mantendo-as cada vez mais distantes.
Outro dia destes fiquei a pensar na frase de um amigo, que queria a amizade verdadeira, aquela com substância, não a de algodão doce, que se dissolve à primeira mordida.
Será que na maioria das vezes somos apenas uma figurinha na página de alguém, algo colecionável, daquelas  que se trocam assim que encontramos alguém mais interessante.
Num mundo tão solitário, há que se existir a verdadeira amizade.
Aquela que te estimula, que te valoriza.
Não aquela que se faz cega aos nossos erros, mas sim aquela que nos faz enxergar as nossas limitações e nos eleva.
Aquela que chora com nossas tristezas, e se alegra com nossas conquistas.
Aquela que ri de nós, e com a gente!
Aquela que te aquece em momentos de solidão.
Aquela que mesmo distante sabemos que estão torcendo pela nossa vida.
A mão na hora certa. O abraço tão desejado!
Não há preço para estes pequenos gestos de carinho.
O ser humano precisa do "ser humano".
Acho que não há outra maneira de se viver.
Olho para cada "figurinha" aqui e sei que são muito mais do que isto, são almas delicadas que foram me dadas de presente, todos merecem meu carinho e meu respeito.
São anjos que me ensinam a cada dia o valor da permanência em minha vida! 
Porque ninguém entra em nossa vida por acaso!
Todos me ensinam que posso ser muito mais do que sou!

https://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=5uPwx_VFPco
 

Peregrina!

Caminho...
Há muito tempo ando por esta estrada chamada vida!
Tenho visto muitas coisas, mas ela não se cansa de me surpreender.
Me convida, e eu, curiosa que sou, sigo a cada dia.
Não sei qual é o meu destino, e sinceramente nem sei se ele existe.
Prefiro acreditar que não, prefiro apenas caminhar, e deixar que este caminho me conduza, me mostrando luzes e trevas daquilo de que sou feita.
Não há nada definido, para quê seria assim?
São nuançes que mudam e eu gosto destas delicadas mudanças.
Sinceramente, de monótono já basta a rotina.
As sempre mesmas idéias, os velhos e mofados preconceitos, as indiferenças que fazem das diferenças ainda mais sofridas.
Se não posso ser livre deste mundo insensível, livre pode ser meu pensamento.
Tenho direito à um caminho que eu mesma escolha trilhar, e é nele que acredito.
Ele tem sido longo, de demoradas descobertas, muitas vezes solitárias descobertas...
Outras nem tanto assim, almas delicadas vem se juntar à minha e juntas durante um tempo bebemos da mesma fonte.
Olho à minha frente e não sei o final de tudo isso, mas tenho comigo que ainda terei muito à descobrir!
Meus pés estão descalços, para que eu nada perca, para que eu possa sentir a vida como ela à mim se apresenta.
Este solo é rico e é sagrado.
Em meu coração sou peregrina!  
 
 
 
 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A marca de um olhar!

Ela caminhou por aquelas ruas estreitas do parque, sentou-se no banco em frente às árvores completamente perdida e sentiu a brisa, que sobre ela trazia o aroma fresco da manhã.
Os primeiros raios de sol, preguiçosos e silenciosos, aqueciam-se e aqueciam o mundo que àquela hora começava à despertar.
Passáros em uníssino agradeciam por mais um dia, enquanto pequenas borboletas coloriam a tela que se desprendia através de uma lágrima.
Procurava um sentido, uma direção, já que tudo que ela acreditava e conhecia se desmonorava.
O que era certo e definido tinha sido quebrado, como um cristal fino que tem em sua beleza toda uma fragilidade contida.
Tão frágil. A vida é tão frágil! A beleza é tão frágil!  
Será por isso que a vida vivida intensamente é tão bela, será que é bela pela sua própria fragilidade!
Devaneios!
Ela riu de si mesma.
"Devo estar perdendo o juízo, já não penso mais racionalmente."
Ela ficou por vários minutos olhando o nada, mas então percebeu que não estava sozinha.
Existia uma presença amiga que sentava ao seu lado.
"Mas que coisa - ela pensou - não vê? Quero estar sozinha!"
Mas se arrependeu por este pensamento e emendou:
"Não, não quero... fica comigo!"
E ali, eles ficaram por muito tempo, longos minutos.
Com paciência, ele esperou, e enquanto esperava,olhou para a mesma direção que ela.
Para as mesmas árvores que dançavam ao vento, e os pequenos insetos que voavam em tantas direções.
As pequenas formigas em seu esforço diário, tão alheias aos desatinos dos corações.
Seus olhos eram os dela, e ele viu através dela o sofrimento por que passa um ser humano.
Mas ela também viu através dos olhos dele, uma árvore que se diferenciava das outras pelo seu aspecto pequeno, galhos finos que cresciam até certo ponto, e depois mudavam de direção.
Através dos olhos dele, viu o esforço que aquela pequena árvore fazia para ganhar os céus.
E percebeu que assim como a pequena árvore, também a vida do ser humano é feita de desafios,  de riscos, e quando um caminho parece ter perdido o sentido, nos resta mudar de direção.
Respirou fundo, se levantou daquele banco e voltou para sua casa, mas não sem antes pensar:
"Não me deixa sozinha, vem comigo!"

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=TigrUMRdkBk
 

 

 
 
   

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Noturno

Lilázes! Azuis!
Quando a vida se aquieta, quando o que está fora não tem mais poder, outro mais forte, navega por sobre  a existência!
E então se abrem outros olhos, mais perspicazes, que tudo vêem.
Olhos na alma, olhos da alma!
Sábia! Eterna!
Para ela não há segredos, descobriu o mundo através de todos os séculos!
Viajou por imensidões e observou a vida sendo gerada!
No seu vôo delicado e manso, viu o que ninguém poderia ver!
Respirou o primeiro ar e sentiu o primeiro beijo!
Beijo... beijo!!
Soube que através do beijo tudo se uniu!
E não há mais um ser vivente que não esteja unido à ela!
De velha que é, conhece todos os rios e caminhos...
Turvos e curvos...
Na névoa ela dança, e se extasia de prazer, ela se une e se rompe...
Nua!
Pura!
Na noite escura, ela se encontra e sabe do que é feita!
Da terra, do ar, da água, do fogo!
E ela se dissolve e se espalha e se queima!
E nas cinzas se refaz!
Nas chuvas ela percebeu que a vida necessita de morte!
É um círculo, um ciclo, uma aliança!
Ela é caçadora, mas também é a presa!
Presa de um amor do qual não se foge, mas se busca!
E essa busca a mantém sempre vigilante, sempre à espera...
Porque ela sabe que quando a vida anoitece é para lá, para o lugar deste amor, que o Destino a irá levar!