quinta-feira, 13 de março de 2014

Vença!

Nota da autora - Este texto foi inspirado na leitura que fiz do seguinte trecho:
"Aonde vamos? Será que venceremos? Qual a razão deste combate? - Cala-te. Os combatentes jamais perguntam."
Nikos Kazantzakis - Ascese

Espero que possa inspirar alguém também.

Marcham os homens sobre a terra.
Incertos do que deverão fazer.
Assumem seu trabalho sem colocar nele sua alma, e então se perguntam - "Para quê?"
Pobres criaturas esses homens, condenados estão a própria derrota, não acreditam, não se acreditam. Caminham inválidos, cegos, coxos, mudos.
Nasceram para voar, mas insistem em rastejar.
Amam a terra, acreditam na premissa "nasceu do pó e ao pó voltará!"
Não, homens, digam não!
A sua matéria pertence à terra, mas seu espírito é do ar. Invisível, imutável.
Onde está o seu valor homem?
Onde está o sua alma, a chama de quem aspira pelos céus, onde está?
Permite a corrente, permite a prisão.
Porque homem?
Onde está a tua força?
Combate a você mesmo criatura, trava a tua luta, vence à você.
Queira a vitória. Queira o seu aplauso.
Não se contente, não se acomode. Luta!
Seja o seu general!
Assuma o seu papel neste grande teatro chamado Vida!
Deixe de assistir, atue!
É disso que você é feito. Não da massa que morre.
Mas do espírito que triunfa!
Transcenda do seus limites, e creia: Não há limites!
Seja o primeiro, seja o espelho em que muitos se inspirarão!  

terça-feira, 11 de março de 2014

Exílio


                                                                            Foto - Rafael Franceschini

Nota da autora - Às vezes é necessário o profundo recolhimento, para que algo novo aconteça. É minha esperança!

Aquela manhã ele despertara com um novo entusiasmo.
Hoje sinto que conseguirei - ele pensou.
Sentou-se em frente a sua máquina de escrever, estalou os dedos e começou a apertar as pequenas teclas.
No início, as palavras vinham com facilidade, uma após outra como um rio fluindo caudaloso, formando e dando vida aos seus pensamentos que pouco a pouco iam sendo colocados no papel para o seu novo texto.
Ele sentia-se feliz, esse era o sentido da sua vida. Foi para isso que havia nascido. Para escrever!
Não tinha ilusões de ser grande, nem de mudar coisa alguma, o que importava era aquela ânsia em se descobrir através das palavras.
Mas ultimamente, essas mesmas palavras que ele tanto amava, estavam abandonando-o. Ele não entendia o motivo. E sofria.
Passava horas tentando colocar um pensamento, uma ideia, porém depois ler o que havia escrito, amassava o papel e o jogava fora. Seu cesto de tão cheio, despejava os papéis para fora. Ele os percebia e pensava "quanto tempo desperdiçado." 
Mas agora seria diferente, ele sentia isso. 
Elas estavam novamente deitando com ele em sua cama, e eram um único ser.
O êxtase tomava conta de seu corpo, ele suava, enquanto apaixonadamente beijava cada uma delas. 
Mas de repente, sem esperar, o calor se dissipou. Ele desesperadamente ainda tentou duas, três frases, mas não adiantava mais, sua amante novamente o havia deixado.
Ele olhou com tristeza para o papel à sua frente. Leu o que havia escrito, mas não fazia mais sentido algum manter aquele texto. Ele tinha morrido.
Levantou-se de sua cadeira, pegou seu cigarro e sentiu mais uma vez o peso do abandono.
O que ele precisava fazer conseguir finalizar uma história? Ou o que estava fazendo errado? 
Ele não sabia.
Talvez houvesse se esgotado. Talvez dele, nada mais as palavras poderiam extrair, para satisfazer o prazer que sentiam ao serem transformadas em entes que eram lidas por outros.
Um sentimento de perca foi tomando conta dele. O que faria agora?
Ficou olhando a fumaça que subia de seu cigarro que ele depositara sob o cinzeiro, sem nem tê-lo colocado na boca. 
Então, um pensamento lhe ocorreu:
"Aceitarei minha tristeza até o fim, mergulharei nesse vazio que minha alma insiste que eu viva, aceitarei o exílio que as palavras me condenaram, esgotarei todas as minhas frustrações, e se preciso for, permanecerei nessa solidão por quanto tempo for, viverei nessa escuridão até que seja merecedor de, novamente enxergar a luz."

     

quarta-feira, 5 de março de 2014

Erros e Pecados!

Outro dia sentada no banco da minha varanda, eu e meu distinto marido começamos a falar sobre a vida, sobre os filhos, trabalho, planos para o presente.
O dia estava se findando, logo a noite chegou e nós continuávamos ali, recebendo as pequenas estrelas que apareciam no céu. O céu da nossa casa não é como o céu do interior. Lá, ele é negro e talvez por essa razão, nele as estrelas são mais visíveis. 
A luz é mais visível na escuridão... isso dá um texto, mas fica para a próxima. 
Talvez também por estarmos falando sobre o céu, nosso coração nos levou a falar sobre Deus.
Quero dizer, a conversa não diretamente a Ele, mas sobre erros e pecados.
Qual a diferença entre os dois? Existe diferença?
Se o pecado é um erro, o erro será sempre um pecado?
É, eu sei, nos aventuramos por caminhos filosóficos que às vezes não levam a lugar algum, mas antes que cheguemos a essa conclusão, muitos caminhos são percorridos.
E foi por caminhar que chegamos a seguinte pergunta:
- Será que Jesus errou?
E o meu coração formulou a resposta que chegou à minha boca, e minha língua pronunciou as palavras:
- Acredito que sim, pois se foi um homem como nós, como poderia não ter errado.
A minha alma pequenina só compreende aquilo que ela conhece, sendo assim, como poderia eu compreender um Deus que é perfeito? Como poderia eu, Alcançá-lo? 
A imperfeição de que sou feita não pode alcançar a um Deus que nunca errou.
Talvez tenha errado sem a intenção de errar, como quando deixou seus pais aflitos por não saberem que Ele, criança, se encontrava no Templo, falando aos doutores. 
Talvez também, inocente, quando deu a resposta que pode ter magoado o coração de José, ao dizer que estava na casa do Seu Pai.
E quando a mulher lhe mostrou que Ele tinha vindo para todos, e não apenas para um grupo de pessoas.
Em nenhum dos casos, houve a intenção de errar. Houve sim a inocência e o reconhecimento do erro.
Pensando assim, será que esta poderia ser a diferença entre pecado e erro? 
O erro é um pecado quando não há inocência, quando não se reconhece que errou, quando não existe arrependimento?
Eu ainda não tenho certeza.
Tenho muito ainda que conversar com meu marido. 
E isso me leva a pensar em outra coisa. Uma afirmação de Nietzsche sobre o casamento:
"Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa, até a sua velhice?"
Tudo o mais em uma relação é transitório, mas o que fica é a capacidade de sentir prazer ao conversar, ou seja: 
O prazer em um casamento não se dá apenas na cama, fazemos amor também conversando, e neste caso, falando sobre Deus.
Sem inocência, sem arrependimentos... será isto, pecado?