terça-feira, 10 de junho de 2014

Entre vida e morte


Foto - Rafael Franceschini

Há um tempo atrás li um livro de Lya Luft "As Parceiras" - muito bom, eu o recomendo.
Quando se lê algo novo, aquilo começa a fazer parte de nós, somos um pouco de tudo que vemos, lemos, ouvimos, participamos. Mesmo que inconscientes disso.
Um escritor precisa ler - não que eu seja, mas confesso, sou uma aspirante - por isso como ouvi uma vez, um professor em uma faculdade dizendo para a turma que, para se criar, se faz necessário pesquisa e repertório, também um escritor precisa.
Então assim, nasceu esse texto, ele deve ter sido fecundado em mim pela leitura do livro de Lya. Nem chega a ser um texto, é apenas um "ensaio" - ando gostando dessa palavra - um ensaio do que seria a morte e a vida...  

"Sei que um dia morrerei"
Este pensamento veio à mim, e eu não quis como de tantas outras vezes descartá-lo de meu pensamento, como se com isso pudesse aplacar o destino certeiro.
Não, hoje quero mastigar essa verdade.
Um dia não estarei mais aqui. Minha viagem terminará e eu voltarei para o meu lugar.
Estou vendo, a minha visão se aclara quando deixo as palavras me cercarem.
Pois se a vida é uma viagem, eu não pertenço a esse lugar.
Verdade que às vezes sinto saudades, de não sei o quê, mas sinto.
Venham queridas, venham me ajudar a perceber de onde sou.
Perceber que esse corpo um dia perecerá, e desta morte se elevará algo mais puro, mais íntegro, mais absoluto e verdadeiro.
Sinto, às vezes sinto, uma vontade de romper essa barreira, desejo então o meu medo?
Mas eu morro todos os dias. Todos os instantes. E vivo a cada dia, em todos os instantes.
Morrer é uma grande ilusão. Uma mentira cultuada. Ela não existe.
Assim como a vida.
Elas brincam, são parceiras. 
Vida e morte, e nós em meio à elas. 
Mas eu não pertenço a nenhuma delas. 
Sou um ser livre, engaiolado pela vida, e libertado pela morte, mas ainda assim, independente delas. 
Eu existo, e nem a vida e nem a morte tem qualquer poder sobre a minha existência. 
Já existia antes, continuarei a existir depois, e sinto saudades dessa existência perfeita a que eu - posso dizer agora - pertencia.
Não me perguntem como, e nem porque, mas penso que Fernando Pessoa coloca um pouco do que agora me revelaram as palavras:

"Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluído de intenções, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar - agora desconhecendo-se
Sempre separando-se de mim, indefinidamente."




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