quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Nublado





Oi, estou aqui novamente!
Andei pensando em um texto que escrevi, com o título Deus chupa mexerica. Vontade de reencontrar aquela menininha que se lambuzava com a fruta, e falava tão inocentemente e alegremente dos problemas que enfrentamos pela vida, muitos deles criados por nós mesmos.
Ela deve estar por aí, andando por algum parque, subindo em árvores, com seu narizinho empinado, e queixo resoluto. Sardinhas pelo rosto, e um sorriso desenhado em sua face.
Uma menininha esperta que não se deixa abater.
Vamos ver...


Então, foi assim que tudo aconteceu...
Chovia, chovia muito! Uma tempestade como nunca se viu. Já faziam vários dias. O noticiário anunciava inundações em muitos lugares. Diziam ser uma espécie de fenômeno raro, um encontro entre ventos que vinham sei lá de onde e iam não sei para que lugar. Ao assistir, o que vinha ao pensamento do homem era uma visão simplista: "nunca deveriam ter se encontrado esses tais ventos, olha o desastre que estão causando."
Se esquecia que na ordem das coisas não se pode intervir, e quando uma coisa tem que acontecer, ela simplesmente acontece. A chuva pelo jeito, tinha vindo para ficar, e não havia nada que o homem pudesse fazer. Em fenômenos da natureza não há como interferir.
Tudo se alagando, tudo se destruindo. O que ficava era o vazio de algo que havia sido construído.
"Bom, talvez não fosse sólido o bastante. Talvez se tivesse sido alicerçado melhor, se o terreno fosse melhor... Quem sabe, se houvesse existido um estudo que pudesse prever, que sob certas condições, aquelas construções poderiam vir abaixo."
Mas não houve. E o resultado foi devastador.
Parecia que Deus havia enviado um novo dilúvio. Mas, tão fácil colocar a culpa em Deus, ele pensou. O homem derruba e destrói. Com as "melhores intenções", transforma paraísos em desertos, ninguém é inocente quando não se preserva e valoriza o que é bom e belo. E aí, o homem chora e se arrepende, por ter feito tudo errado e pelas decisões insensatas que tomou. O que mais se via eram, os maiores responsáveis tentando transferir a responsabilidade para o outro. Talvez isso diminuísse a sua culpa, um perdão que nunca viria, diante de tanta tristeza que aflorava nos corações.
E as pessoas olhavam para os seus jardins destruídos, e achavam que nunca mais conseguiriam semear novamente. Olhavam para o futuro sem esperança, pensando unicamente no passado, querendo voltar no tempo, pois ali existiu a beleza; ali, naquele passado existiu a felicidade. Nunca mais seriam felizes, nunca mais olhariam de sua varanda a beleza das flores.
E então, como se todos os pecados tivessem sido lavados, a chuva foi passando, levando com ela sonhos que não existiam mais. Os dias que se seguiram foram os mais difíceis. Tudo fora do lugar, sujeira por toda a parte, lama cobrindo o que era bom como uma casca, impedindo a visão.
A natureza implacável tinha se rebelado, porém como um milagre, a mesma natureza dizia que era preciso reconstruir, recomeçar. E eles recomeçaram. Fizeram de sua tristeza a sua força. E foi bonito de se ver.
Houve quem veio para ajudar, emprestando seu braço e toda a sua força na retirada das terras que se acumularam. Houve quem veio para trazer palavras de esperança, fazendo com que os risos voltassem aos rostos de quem, apenas sentia vontade de chorar.
E atravessaram juntos aquele tempo difícil de deserto, e no céu as nuvens começaram a se abrir, mostrando que atrás de toda e qualquer tempestade e mesmo um horizonte nublado, o azul sempre esteve ali, e todo o dia é uma nova chance de amanhecer e viver!


Nota da autora : Penso que a menininha é como esse céu, sempre vai estar por aí!

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