terça-feira, 2 de junho de 2015

O anel





Estava eu outro dia procurando alguns acessórios que combinassem com meu vestido e maquiagem, pois iria a um casamento.
Brincos, gargantilhas, anéis... Foi então que meu olhar se "abriu" para um pequenino anel perdido entre outros. Digo que "abriu" porque na correria de procurar alguma coisa a gente apenas olha, sem enxergar o verdadeiro valor de cada peça que possuímos. Não que todas tenham que ter algum valor sentimental, mas esse em especial tinha sim.
Minhas lembranças se confundem sobre ele, não sei ao certo quando o ganhei. Talvez no meu aniversário de 15 ou 18 anos, mas pode ter sido também quando concluí o ensino fundamental, e isso já se vão uns 30 anos. Faz tempo...
Assim como faz muito tempo que as pessoas que me deram, partiram daqui. Meu avô se despediu primeiro, e depois de alguns anos, minha avó.
Muitas lembranças vieram quando prestei atenção naquele pequenino, e continuam a vir. 
Fiquei pensando no carinho que tiveram ao escolher uma pequena joia, para celebrar algo importante na vida de sua neta. Eles não eram de muita posse. Vindos do interior, sempre batalharam muito para dar aos filhos - seis - o alimento e a roupa de cada dia. Assim como também fizeram de cada um deles pessoas dignas. 
Lembro-me do casamento de algum deles. Lembro-me do nascimento de alguns primos. Dos almoços de domingo. Festas de final de ano. Da bagunça que fazíamos. Das nossas festas juninas, meus avós sempre foram extremamente religiosos, e nessas ocasiões sempre erguíamos o mastro de São João, Santo Antonio e São Pedro, costume que trouxeram lá de Bueno Brandão.

Lembro-me de minha avó penteando meu cabelo, para que eu fosse a escola "arrumadinha" como ela dizia. E aos sábados um prato de comida - arroz, feijão, farinha de milho, salada de alface e coxinha de frango - que saudade!
Minha avó nunca foi de ficar falando do seu amor pelo meu avô, mas um dia quando perguntada por uma criança, quem era ele, ela respondeu "É meu namorado".
Uma outra ocasião em que precisei de uma cirurgia eles me disseram "não há de ser nada".
Anos depois em que meu avô já havia partido, meu tio também foi embora. Lembro-me de minha avó, recebendo a notícia que nenhuma mãe merece receber, apesar do sofrimento, ela apenas rezou uma Ave-Maria, e o que me tocou e nunca mais fui capaz de esquecer, foi a profunda fé ao rezar o Pai Nosso e proferir "seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu".
Todas essas lembranças me vieram admirando aquele anel.
Lembranças da pessoa que eles foram, dos exemplos que deixaram!
Saudades imensas... não daquelas que doem, mas das que nos arrancam sorrisos entre lágrimas, por trazerem recordações de uma época boa que foi vivida, que valeu à pena, que contribuiu para que eu seja hoje a pessoa que sou.
Já não os vejo, o material de que foram feitos chegou ao final ou voltou ao início. O ouro do anel, entretanto continua aqui, é um material mais resistente que o barro que somos.
Será?
Ou além do anel existe algo mais consistente, mais precioso, e mais sábio que nunca se extingue?
Acredito que sim... Porque, ele é apenas algo material, que para outros teria apenas o valor do que é feito. Mas para mim, ele é presença. Algo que não se troca, que não se vende. 
Um sacramento!
Assim como um ipêzinho amarelo a quem chamo de Rubem Alves, esse meu pequenino anel é para sempre Antonio e Maria, meus avós tão queridos, que hoje estão na presença de Deus.
Minha fé me leva a acreditar que estão juntos em um imenso jardim, abraçados pelo amor sem fim!
E isso se confirma na forma do meu anel. Lembra o infinito, me fazendo pensar que a vida é um eterno ciclo, e o hoje é apenas uma parte dessa viagem, pois o nosso destino não é aqui. 


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