quarta-feira, 18 de março de 2015

Inspiração

Como já escrevi aqui, muitas outras vezes, para se escrever é necessário inspiração.  
Inspiração não é uma coisa que acontece quando queremos, não vivemos inspirados, bem que eu gostaria. Sair criando, escrevendo, compondo, desenhando, enfim usando aquilo que temos de melhor dentro da gente para tocar a alma de alguém. 
Mas antes precisamos ser tocados primeiro. Primeiro a gente, depois através de nós, o outro.
Como uma pedra jogada no rio, forma ondas que vão crescendo.
Somos esse rio que tocados por uma pedra, propagamos ondas que mudam as direções e que inspiram outras formas de pensar e ver as coisas.                                                                                                  
E assim é em qualquer arte. Quando vemos uma pintura, uma dança, um texto, uma peça de teatro. Primeiro a pedra tocou e inspirou quem a criou, e através dessa obra criou-se a onda que vai crescendo conforme os nossos olhos se abrem para vê-la.
A vida também é assim. Muitas vezes pequenas ondas vem para nos dizer algo, e nós precisamos entrar em contato, abrir nossos olhos para que nos sintamos tocados e alguma mudança aconteça, dentro da gente, e a partir de nós, outros.
Mas e quando eles não se abrem? Pode ser que nada aconteça e a onda passe sem que ninguém a note. Ou pode ser que ela se manifeste de uma forma que não se possa ignorá-la.
Essa semana tive um sonho. Bom, até agora eu não sei se foi realmente um sonho, porque não sei exatamente o momento em que acordei.
Estava deitada em minha cama, e de repente senti a vida sair de mim, sem que eu pudesse contê-la. e eu lutava, lutava muito e quanto mais fazia isso, mais eu sentia que não tinha controle sobre aquilo. Eu era como uma bexiga esvaziando ou uma planta que vai murchando. Foram segundos eu acho, mas foram os segundos mais eternos, se é que tem algum sentido em se dizer assim. Foi angustiante para não dizer agonizante.
Então eu me vi acordada e bem viva! rsrs
Mas não foi possível ignorar a experiência de morte que eu vivi. Passei o dia todo pensando nisso, e esse sonho está sendo a inspiração para esse texto. Desta "morte" estou gerando vida.
Fiquei pensando o que será que isto significa? 
E o que me vem é o quanto estou carregando de peso morto, o que já não vive mais em mim e eu insisto em querer continuar...
Meus medos, minhas inseguranças, tudo aquilo que me faz sofrer, que faz com que meus ombros se curvem cada vez que eu prossigo em meu caminho carregando bagagens desnecessárias por medo, por ser insegura. É um ciclo que me acorrenta. 
Conversando com minha psicóloga, ela me falou o quanto temos dificuldade em olhar para dentro de nós, e é verdade. É tão melhor! É tão bom olhar o outro, olhar sempre para fora. 
Eu olho para fora e vejo manifestações de Deus. Eu sinto a presença Dele no vento, eu vejo a Sua face na folha que cai, na criança que brinca, na chuva, no céu. Isso é contemplação e é maravilhoso. Mas talvez não provoque mudanças. Não as mudanças que eu necessito.
E acho que Ele sabe disso. Sabe que eu preciso do sofrimento tanto quanto da beleza.

Então aconteceu esse sonho, que fez com que eu olhasse para dentro. Isso, se não foi uma manifestação de Deus, não sei o que foi. Real, tocando naquilo que é o meu maior pavor, me obrigando a pensar sobre, e a partir disto olhar meus cemitérios, e o quanto eles tem pesado sobre mim.
O rio tocado pela pedra é ferido e não será o mesmo a partir das ondas que se formam. Pode ser na superfície, mas na profundidade não mais.  
Contemplar é lindo mas viver, apesar de muitas vezes ser difícil, é o melhor. 
Encarar nossas verdades e enfrentá-las é libertador. Eu vejo minha fragilidade, mas através dela eu vejo o quanto já fui forte e quanto já superei e me refiz!
Queridos, algumas coisas precisam ficar para trás. 
Sem medo de ser feliz!


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