sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Era uma vez...

Era uma vez...

É assim que se começam as histórias.
Na minha infância não posso reclamar de não ter tido sonhos iniciados com estas palavras. Era uma vez sempre povoou minha mente de fantasias.
É engraçado como certas palavras juntas despertam interesse e curiosidade, então é assim que irei iniciar esta minha pequena história. Não sei se ela - a história - fará juz a tão poderosas palavras, não sei se despertará interesse ou mesmo curiosidade e nem sei se terá um gran finale, mas as vezes me é necessário escrever sem pensar, apenas pelo prazer de escrever ou então, para quem sabe descobrir algo que eu não saiba.
Porque escrever é algo assim entre o consciente tão limitado e o inconsciente - um tesouro inesgotável de intensas possibilidades. Bom, mas vamos então à história:

Era uma vez... 

Uma pequena lagarta... acho que não comecei bem não é? Porque afinal o que pode haver de interessante em uma lagarta? Um ser vivo sim, mas tão insignificante, sempre rastejando, vivendo sem nem saber que vive, raras vezes pode ser considerada bela, algumas até tem umas cores interessantes, mas beleza definitivamente não lhe foi concedida pela mãe natureza. Será que devo insistir nesta história? Vamos lá vai, quem sabe esta lagarta em particular me surpreenda.
Porque a surpresa é sempre bem vinda em nossa vida. Sempre tão comum esta vida.
Mas continuando:
 
Era uma vez uma pequena lagarta, nasceu de uma flor - pelo menos era o que ela acreditava - nasceu assim do nada, como um ponto que alguém coloriu, ou pode ter sido também um pingo de tinta que caiu, e quando caiu escorreu se transformando numa linha fina que se tornou o corpo do que é a lagarta.  
Ela descobriu que não era feia nem bonita - ora, ora, não é que isto difere da minha definição de lagarta descrito logo acima? - enfim, ela apenas era! Era um bichinho que precisava comer!
Sabia que isto ia ficar comum, todos precisam comer... Ai ai essa lagartinha não vai me surpreender.
A linha fina do seu pequeno e frágil corpo foi escorrendo por um galho verde à procura de algum alimento, que logo encontrou. Uma visão do paraíso, uma enorme folha verde e brilhante ainda molhada, levemente curvada à sua fome, se doando gentilmente e gratuitamente ao seu olhar.
Porque é o olhar que primeiro devora, é a beleza do prato quem traz a sensação do cheiro e do gosto, e só então aí se rende aos outros sentidos.
A pequena lagarta satisfeita com seu almoço, logo percebeu o espaço ao seu redor. É uma flor isto? - ela se perguntou - Bom, colorido pelo menos é. E ela se convendeu de que era. Para ela estava muito bom que fosse, ela não foi feita para grandes descobertas, estava satisfeita com seu estômago bem cheinho.
E assim foram dias e dias e dias e dias...
Tantos dias assim será porquê acabou-se a inspiração? É que pensar dá trabalho. Assim como qualquer outra coisa. A vida é feita de trabalhos, por exemplo: comer dá traballho, andar dá trabalho, essas coisa físicas que são necessárias para se viver dá muito trabalho, assim como amar, acreditar, perdoar, brigar... porque não? também dá muito trabalho brigar, ou então coisas ligadas à arte como cantar, representar, pintar... são prazerosos, mas nem por isto deixam de dar trabalho.
Então eu estou aqui me dando o trabalho de pensar o que fazer com minha lagarta. Ó sim, ela é minha, eu a criei então é minha. Ela existe apenas no campo do meu pensamento e acho que está sobre uma flor, quero dar beleza para ela - mesmo que isto dê algum trabalho - quero que ela seja bem recebida quando sair da minha mente e por isto necessito de tempo e algumas palavras sem sentido.
...e dias!
Algo não estava bem, ela sentiu que algo estava acontecendo, e danadinha se atreveu a pensar - acho que comi muito - sentia um enjoamento e uma tristeza...
Tristeza? Lagarta conhece tristeza? Essa é nova até mesmo para mim que a criei!
A pequena linha que formava seu corpo não existia mais, estava disforme, ela não conhecia aquilo, e ficou com muita raiva!
Raiva? Essa é boa! Mas que atrevida... como se atreve a ter sentimentos? Sentimentos são coisas exclusivamente humanas, não estão à mercê de insetos, larvas e outros! Acho que esta lagarta está saindo do meu controle!
O que era fino começou a ganhar nuances amarelas, e ela imaginava - estou doente e vou morrer! Mas não morria! E pensava:
Há, não me perguntem mais nada, deixem ela pensar, se revoltou!   
O que seria a morte? É onde eu acabo - ela mesma respondeu - é onde eu deixo esta vida, comi, vivi, e agora morro. Conheci alguns sentimentos, tive um trabalhão para digeri-los, isto deve ter me deixado doente, sim foram eles. Pobre de mim! Porque não me contentei apenas com a comida que era me dada por aquela folha tão gentil. Ela era bela!
Tristeza e raiva acabaram comigo.
E agora o que vejo? Tons azuis? Será assim do outro lado? Ou ainda estou aqui? Dizem que quando estamos para morrer vemos coisas estranhas, e eu começo a ver tudo se colirindo ao meu redor. Morrer até que é bonito!
Mas espera... sinto um peso sobre mim, o que é isto? Esta linha que ainda existe se alonga agora... formando o que? Uma asa? Morrer é isto? Criamos asas? Morrer não é tão ruim assim!
Morrer é voar, viver é rastejar!
Peço desculpas por estes pensamentos malucos da minha lagarta, ela criou vida própria, não tive como contê-la.
Mas porque não vôo?
Hahá! te peguei pequena lagarta, que já não é mais lagarta, voltei a dominá-la, te contarei um segredo: Você é borboleta, sempre foi, desde o início! Mas quase saiu do meu controle! Queria continuar lagarta comendo e comendo minhas horas de sono, tirando o meu sossego, porque te queria assim, linda! Mas enfim consegui te transformar. 
Sim - eu, seu criador - eu, que tenho o pincel em minhas mãos. 
E você vôa sim! Vôa em minha imaginação!
 

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