quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um por cento


Nota da autora - ... com uma conversa, uma reflexão.

 "Era uma vez um homem. Possuía cem ovelhas.
Um dia uma delas lhe fugiu, e ele nunca mais foi feliz."

Cada um de nós, em nossas vidas, temos nossos valores, que podem ser família, amor, amizade, felicidade, espiritualidade, sucesso, saúde, paz, entre tantos outros. 
Divididos eles estão em prioridades, cada um ocupando seu espaço dentro da gente.
Os espaços que eles possuem formam a nossa totalidade, sendo preenchidos, fazem com que nos sintamos completos, realizados. 
Mas aí entra um tipo de maldição. Do barro em que fomos criados, alguma pedrinha diferente foi juntada, ou então tirada, quem sabe sem querer, ou por querer - um capricho à mais do Oleiro.
Por mais que tenhamos, estaremos sempre em busca de algo, e colocamos neste objeto de desejo - que pode ser qualquer coisa - toda nossa expectativa de nos sentirmos felizes.
Nos faremos surdos aos apelos de "Você tem tudo, porque vai atrás disso?" "Vai deixar tudo que tem por uma coisa assim?"
Temos que ir, temos que deixar, é o que move a nossa vida.
É o que faz a diferença entre estarmos vivos e nos sentirmos vivos. 
É o que nos faz ter a ilusão de preencher o espaço vazio que nunca será.
Pode parecer ruim essa eterna procura, mas olhando atentamente veremos que essa busca é também o que nos traz os grandes pensamentos, as grandes descobertas, as transformações... a evolução.
A nossa própria, individual.
Pode não valer muito para os outros, eles nunca entenderão. Porque isso é nosso. 
É a nossa busca, o nosso desejo, a nossa salvação. 
Teremos sempre o estigma da ovelha perdida. A ovelha que será sempre o nosso um por cento que falta.  
E quantas vezes abrimos mão desse um por cento. Quantos um por cento já se foram, por nossa falta de coragem, por nos deixarmos convencer de que não é tão importante, de que podemos viver sem. 
"Mas é apenas um por cento."
 Não importa, 99 não é 100.


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