... então ele terminou o livro e ficou pensando em seu conteúdo. De uma maneira particular a autora não deu aos personagens um final. Deixou as possibilidades.
Haveria quem sabe um segundo livro? Seria essa a intenção?
Muitos escritores contemporâneos estavam optando por esse tipo de escrita. E era interessante o processo de ficar aguardando a continuação de uma história, alguns não tinham paciência para isso, mas a maioria encarava com grande expectativa o lançamento de mais uma parte.
Seria esse o caso?
Ficou refletindo sobre isso, gostava de ficar pensando no por quê das coisas.
A gente nunca sabe o que realmente passa pela cabeça do artista quando ele realiza sua obra, e isto também o fascinava, porque a arte é algo que ganha vida depois de pronta. Ela depende do seu criador para existir, mas depois de pronta ela cria asas e atinge as pessoas de um jeito muito singular.
Ela nunca tem um ponto final. Está sempre se transformando pelos olhos, ouvidos, coração.
Assim pensando, colocou uma música para ouvir. Uma sinfonia. Gostava de depois de uma leitura ficar ouvindo uma composição, os acordes lhe ajudavam a refletir.
Nesses momentos seus pensamentos pareciam cavalos selvagens soltos na campina.
"Para que colocá-los sob rédeas. São lindos, livres.
Se pudéssemos, assim como os pensamentos, também nós sermos livres. Não a liberdade que negligencia as responsabilidades, mas que nos possibilita vermos a vida de uma maneira nova. A liberdade que nos dá a chance de nos questionarmos, de mudarmos de opinião sem sermos tachados de não termos personalidade. A liberdade de nos moldar conforme as oportunidades que nos são oferecidas. Como as grandes obras de tantos artistas, vistas e sentidas de tantas maneiras diferentes. Nenhuma delas, um ponto final.
A liberdade talvez consista em manter longe de nós o ponto final. Melhor uso seria as reticencias.
Assim como a escritora do livro, que deixou em aberto algumas questões, para que nesse momento eu refletisse além de seus personagens, a minha própria vida. Estou aqui deitado em meu sofá, mas daqui a pouco posso estar em outros lugares, ser de outro jeito que não este. Assistir a algo que me faça mudar de ideia quanto a alguma coisa, amar e sentir as pessoas como eu achar que seja melhor, dar-me a chance do perdão, da amizade, de acertos e erros que sei que vou cometer. Nada se perdendo. Tudo se somando. Nada finalizando.
Nem a morte é sinônimo de fim."
E pensando assim, ele acabou por dormir e sonhou com cavalos selvagens correndo soltos pelas campinas.
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