quarta-feira, 24 de abril de 2013

Lilás!

Ele pegou o pincel, molhou em lilás e ficou olhando a tela em sua frente, vazia!
O último cigarro ainda respirava sob o cinzeiro onde, por horas inteiras, tinham-se desenhado linhas tênues de fragmentados pensamentos.
Ele estava morto.
Precisava encontrar sentido novamente e, renascer.
Olhou o pincel... lilás! O que ela me traz?
Dor... solidão...
Não! Misturo o que sinto e contamino o que poderia ser vida.
Sim! Vida! Lilases...Azuis!
Sou um menino! Uma criança com seu brinquedo, sem saber o que fazer com ele.
Em minha frente a tela branca e virgem, intacta e pronta.
Como uma jovem que se prepara para o momento da entrega, e carrega dentro dela todos os desejos e sonhos, assim é a tela à minha frente, mas eu... eu não tenho nenhuma promessa, apenas o desejo de existir através dela e tomar a eternidade para mim.
Teria sido este o meu erro?
Respirar através dela o que nunca foi meu.
Lilás... como o vestido que ela usava num dia de sol.
E novamente te enveneno.
Mas é doce o gosto que tenho, ainda tão vivo dentro de mim.
Como eram os lábios daquela mulher que veio à mim num dia de sol em lilases!
Não era vazia - como esta tela - era plena, de uma verdade que nunca foi minha.
E eu como um menino, sem saber o que fazer a esvaziei... nenhuma promessa. Apenas o desejo de tomá-la para mim.
E ela me deu vida, e através dela fiz a minha eternidade em outras telas que agora não me pertencem mais.
Refletem a loucura de um artista.
Mas haverá alguém que possa compreender a alma possuída por uma paixão que embriaga a lucidez e a razão?
Assim era eu.
Embriagado de vida!
Mas hoje, hoje sou...ausência.
Lilás, e o primeiro traço de sentimento se faz na tela branca e ela recebe aquela promessa, como quem recebe o primeiro beijo que nunca deveria ter sido.


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